03/11/11

É estranho o lugar do passado dentro de mim. Finalmente arrumadas no devido lugar, raramente me assaltam as memórias de lugares vazios e esfomeados. E quando pondero sobre as coisas que passaram, tudo soa a ecos longínquos da chuva. Os rios não param de correr. E falo como se vivesse em verão pleno, mas só metaforicamente, porque tu sabes que comigo é ao contrário, que o calor me faz comichão e que o vento gelado me sabe a casa. Casa é chuva e folhas secas no chão e casacos e botas. Casa é o aconchego de cobertores e do ar aquecido por termoventiladores. Casa é os teus olhos sorridentes e a tua barba fofinha na minha bochecha. Casa é os teus dedos dos pés entrelaçados nos meus. Casa é as tuas costas macias, as tuas orelhas entre os meus dedos, o teu nariz e a tua boca. É estranho procurar escuridão dentro de mim e encontrar apenas conforto, procurar dúvida e perceber que, finalmente, cheguei a casa. É estranho ter uma pessoa como casa, é estranho querer uma casa com uma pessoa.

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