30/07/11

em Lagos, vii


em Lagos, vi


em Lagos, v



em Lagos, iv

em Lagos, iii


em Lagos, ii


em Lagos, i



ninho vazio

Todos precisamos de uma casa. Extinguiram-se os nómadas e mesmo os errantes precisam de um ponto de partida ou de um ponto de chegada. Voamos. Fugimos. Aprendemos o que é isso de ir embora. Mas nunca nos esquecemos do caminho de retorno, mesmo que agora tenhamos o coração dividido entre tantos ninhos.

ginger ginger ginger



Praia da Rocha

castelos de areia, ii



Praia da Rocha

castelos de areia, i



Praia da Rocha

verão à varanda


24/07/11

isto sou eu a fritar

O mundo não muda em palavras. Essas servem apenas para dizer as mudanças. As mudanças e os estados. Resta agora saber se a dor é uma mudança ou um estado. Provavelmente será ambos, alternadamente ou cumulativamente. Mas se é um estado é um estado que antecede uma mudança. A dor serve para mudarmos. Ninguém gosta de dor, se a dor se torna prazer é porque algures no caminho deixou de ser dor. Por definição a dor é de afastar. Serve para mudarmos. É um dedo que nos apontam acompanhado de um berro de repreensão que nos diz «Vai». E mais cedo ou mais tarde temos de ir. Certo? Sim. Se estamos presos na dor como se de uma gaiola se tratasse é porque há uma outra mão a segurar a chave. Ou a nossa própria mão. Oh, tantas vezes a nossa própria mão. E é triste. Tudo porque o mundo não se mede em dor ou ausência de dor, há outras coisas pelo meio. Amor? Sempre, sempre o raio do amor, seja de que forma for. Ou o amor ou a pura maldade. Reparando bem na natureza das coisas, vai dar no mesmo. Os extremos tocam-se. O supremo bem e o supremo mal acabam por funcionar ambos como mãos segurando chaves trancando gaiolas prendendo-nos em dor. E se a pura maldade é perigosa porque parte de fora, o amor é ainda mais perigoso porque vem de dentro. De dentro ou de um sítio qualquer que ainda ninguém soube dizer onde. Seja como for, a pura maldade de infligir dor imputa-se a outro, o amor não, não dá para atribuir a ninguém. É tão inconvenientemente aleatório. Não tem cara, nem causa, nem culpado. Nasce como que do nada (sabendo-se de antemão que nada nasce do nada), cresce sem que queiramos, tantas vezes contra as nossas investidas e morre quando quer, quando nós não queremos. Ninguém quer ver o amor morrer. É um triste espectáculo ao qual assistimos de fora sempre que estamos de dentro. Mais ninguém sabe quando morre o amor, só nós mesmos, público consciente e impotente. E vamo-nos mentindo, tratamo-nos com paninhos quentes, adormecemos a consciência, paliativos, paliativos, e sem darmos conta vemo-nos a escarafunchar no nosso cerne à procura de uma coisa sem cara, sem causa, sem culpado, da qual sabemos apenas que outrora viveu. Fugimos da verdade e não é para menos: quando morre o amor, morremos nós. Aí está o outro gume da faca. É fodido. Amar é a dois. Tudo o que demais se relacione não é amor porque a mutualidade é inerente ao próprio conceito de amor. Amar parte de (ou então resulta em) deixarmos de ser um, passarmos a ser dois. Dar de nós, receber a contra parte. Não é fusão. Não são dois a tornar-se um, são dois a tornar-se quatro, eu e tu e tu e eu, eu em ti e tu em mim. Quando morre o amor não morro eu nem morrer tu, morre a tua parte em mim e a minha parte em ti. E é por isso que me sinto a morrer. É por isso que morri, morremos. Não na totalidade, mas na parte. Quanto mais tempo passa mais de mim passa para ti, mais morrerá. E é isto. Não é de fugir? É. Fugir do amor é fugir da dor. A dor é de fugir, tal como fugimos da pura maldade. E ainda assim, poucos são os sábios, muitos são os loucos. No fim, todos seremos. Dizem-nos que a vida sem amor é pobre. Será. Mas somos loucos quando mergulhamos voluntariamente num precipício de pura arbitrariedade. O amor é volátil, esvai-se em três momentos, e ainda assim aqui estamos todos nós a colocar nele o que de mais precioso temos sem estarmos de todo certos da contrapartida. Não há seguro, não há garantia, não há direito de arrependimento. Escolhes ir e vais, entras no remoinho e ele cospe-te quando quer e só quando quer. Porquê? Custa-me a crer que é tudo um mecanismo biológico para garantir a subsistência da espécie humana. Mas vai daí e sim, na pureza das coisas o que somos todos é animais.

muita música, muito pó




SBSR 2011

12/07/11

manifesto antiamor

Não gosto dele. Não tenho fé nele. As coisas boas da vida não vêm em doses esgotáveis, as coisas boas da vida constroem-se para durar. As coisas boas da vida não são injecções de felicidade nas veias que nos iludem sem que possamos ter a verdadeira percepção da realidade. As coisas boas da vida são certas e estáveis, não são nuvens lá em cima nas quais nos deitamos até que se dissolvam no ar. Não confio nele. Não o quero. Mas por mais que fuja dele, não há como me esconder.

always step on the ground


Tinha esta pergunta presa a mim há tanto tempo que me habituei a ela sem nunca a ter chegado a responder. Porque é que eu tiro fotografias? Pousei a máquina há uns meses e hoje peguei nela outra vez. Por falta de tempo, por falta de vontade, por falta de fim. Mas hoje peguei nela outra vez e pude perceber O Porquê. A fotografia, para mim, é uma forma de eu coleccionar memórias, de captar as coisinhas que acho bonitas, de olhar à minha volta e descobrir o que me rodeia e guardá-lo. Para nunca me esquecer, para poder relembrar. Não pretendo fazer arte nem auto-expressar-me. Isso guardo para o desenho e para as palavras. Não pretendo descobrir o mundo a mostrar ao mundo. Não pretendo tirar boas fotografias, nem ser uma boa fotógrafa. Ou fotógrafa sequer. Só pretendo colher fracções do presente para guardar. E é por isso que as minhas fotografias não têm grande valor objectivo. Mas subjectivamente, quase todas valem algo. Sim, o coma chegou ao fim.

Se eu tive medo, foi justificadamente.
Se fiquei de pé atrás, foi sensatamente.
Se ignorei a cautela, foi estupidamente.
Não podes fugir de ti quando sugam toda a luz do mundo e ficas preso em cobertores, e o teu quarto se transforma num cárcere em paralelepípedo cheio de um silêncio pesado que te grita aos ouvidos tudo o que fizeste por abafar ao longo dos dias. Condenado ao silêncio, não podes fugir de ti e começas a comer-te por dentro, arranhas os muros dentro da tua mente com as palavras que não consegues calar, repetidas ao infinito na mesma cadência, como martelos, como agulhas, como pedras. Chutas o coração para que te doa menos a cabeça. Porque não podes fugir de ti nem do silêncio nem da escuridão e nem a música alta consegue desfazer esse nó de culpa e de medo que sentes no momento em que decides apagar a luz. Quando és a tua própria prisão, quando cais na tua própria armadilha, quando és o teu próprio fantasma, não podes fugir de ti. Amanhã falo contigo. Amanhã, amanhã, amanhã.

#14


Alice in Wonderland
- Have I gone mad?
- I'm afraid so. You're entirely bonkers. But I'll tell you a secret. All the best people are.

10/07/11

Há fios que nos puxam, não há? De alguma maneira. Há um fogo em mim que queres ver arder. Não se criam, os momentos, nascem. Tu estás sempre a criar e a criar. Tens medo que não nasçam? Há fogo em mim que queres ver arder, desde o primeiro dia em que me viste. Eu sei. Nunca te disse, mas vi como olhavas para mim como se eu fosse íman e tu fosses ferro. É isso, tu és ferro. Ferro em brasa, forte e quente. Agarras-me como se eu fosse uma lareira num dia de inverno, beijas-me como se eu fosse mel na tua cerveja. Mas quanto mais me puxas para ti, mais te sinto a fugir-me por entre os dedos. Areia, areia quente. Eu não sou só feita de fogo, não fui feita para ferver. O que arde em mim é amor. Dás-me?

#13


Hauru no ugoku shiro
- I feel terrible, like there's a weight on my chest.
- A heart's a heavy burden.

09/07/11

Sou uma iludida. E já passou o tempo em que esta dor de amor me sabia bem. Agora não quero não quero não quero.
Sei que estás a fugir,
acho que estás a fugir,
espero que estejas a fugir,
não quero que fujas,
só eu posso fugir,
só eu me posso esconder,
tu devias ser páginas
de um livro aberto,
mas estás longe,
muito longe,
acho que estás a fugir.

Sabes uma coisa?
Eu não sou um corpo,
nem cabelos para agarres.
Não te/me/nos percebo; nada.

08/07/11

The end of paralysis.

Cansei-me de procurar a perfeição e deixei de desenhar triângulos equiláteros nas bordas dos cadernos. Perdi. Para não me perder. Deixei de querer ser perfeita, perfeitamente racional, perfeitamente definida, perfeitamente complexa. Perdi. Para te ganhar. Gosto como me agarras a nuca. Gosto da tua voz e gosto como te ris. Por enquanto, não preciso de mais.

ávidos olhos

Vem, vamos, vou por onde fores.
Queres-me levar
e eu quero ir,
vamos.
Os teus olhos dizem
que é tudo possível,
que podemos fazer tudo.
E só querermos e eu quero,
quero sentir tudo,
ver tudo,
saber tudo,
ter tudo,
mais e mais,
um pouco de tudo.
E tu queres-me levar,
enquanto eu te levo
nos meus ávidos olhos.

03/07/11

Aprendi a queixar-me menos. Queixar é atribuir importância ao que nos incomoda.

preciso de ter saudades tuas.

Tinha uma coisa a dizer, mas esqueci-me.
Sempre vivi olhando as coisas decididas como as coisas valiosas. As coisas que escolhi, sobre as quais ponderei, que controlei e que modelei, que defini e qualifiquei. Na verdade, porém, o grande valor está nas coisas que acontecem sem que eu tenha decido sobre elas, sem que as tenha arrumado numa gaveta ou numa prateleira, sem que tenham corrido sobre elas páginas de literatura e conversas cheias de ses e talvez. São as coisas naturais e imponderadas as que valem mais, porque a magia da vida está na imprevisibilidade e a felicidade está em fazer o melhor com aquilo que temos. Tenho aprendido a abrir a minha mão e soltar as rédeas um bocadinho. E assim o vento na cara sabe-me melhor. Porque é o vento que eu saboreio. Sem ses.