Há uma sombra imperceptível,
Perdida na multidão.
Eu consigo vê-la através da minha janela,
Mas eu sei que tu não a vês.
Nem poderias.
A Sombra é um fantasma
E os fantasmas não existem.
A Sombra vagueia na rua
Sussurrando aos que passam,
Que ignoram a sua existência.
Gritando aos que passam,
Que não a vêem lá.
Gemendo, berrando, chorando,
Mas sempre imperceptível,
Já que eles não sabem que ela existe.
Mas não eu, descansando na minha cama,
E olhando pela janela.
Eu vejo-a, a Sombra.
Eu consigo vê-la.
Eu vejo-a ser empurrada, pisada,
Eu vejo-a aos encontrões na multidão,
Eu vejo-a a cair e a chorar,
E a erguer-se de novo.
Eu vejo-a tentar vezes sem conta,
E a cair cada uma dessas vezes.
A Sombra apenas quer ser vista,
Tal como aqueles por quem ela passa,
Ela quer, de alguma forma, ser mais que uma sombra,
Uma sombra imperceptível.
Mas ela sabe que não importa
Quão alto ela grita,
Com quanta força ela chora,
Porque ela nunca passará de uma sombra.
E quando eu olho mais próximo da janela
Eu vejo que não olho mais
Que o meu reflexo num espelho.
E nem pareço assim tão mal.
Eu consigo ver um certo brilho
Bem no fundo dos meus olhos,
Porque há alguma coisa viva em mim.
Algo que eu sei que devia ripostar
Ou ignorar como eles fazem com a minha sombra.
Essa luz em mim, que tu não vês,
Porque eu sou um fantasma,
É, de alguma forma, a esperança,
Ou talvez apenas o desejo
De que algum dia, no meio da multidão
Alguém bata em mim, se vire para trás,
E peça desculpa.
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