14/08/09

Pedras

Ele tinha os olhos sempre semicerrados,
Como se houvesse luz a mais, em todos os lugares.
Nunca sorria, pelo menos um sorriso amplo
Daqueles que se estendem até aos olhos.
Quando não falava, também não ouvia
Por isso ninguém falava com ele
E ele não falava com ninguém.
Sozinho nos cantos das salas,
Sempre de olhos semicerrados,
Ele olhava para tudo, mas não via nada.
Estava de tal forma fechado no seu mundo miserável,
Que nunca ninguém notava nele.
Não existia.
Mas tinha sempre um olhar cansado,
Perdido e em simultâneo concentrado,
Esforçando para conservar cada uma das suas tristezas,
Dos seus desgostos do passado.
Era compreensível: eram as únicas vozes que ele ouvia.
Um dia, perguntei-lhe porque se esforçava tanto por não viver
E, apesar disso, conservava a sua vida.
E mesmo sem me ouvir, respondeu-me:
“Quando perdemos o amor, perdemos tudo.
E perdemos o amor, apenas quando sabemos
Que não somos dignos de amar.
Que não somos dignos de que nos amem.”
14 de Agosto de 2009

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