08/09/09

Memórias do meu degrau

Tu vieste devagar e sentaste-te ao meu lado. Não disseste nada e eu pensei que se tu não falavas, não era eu que ia falar. Era tão desnecessário dizer alguma coisa: o silêncio dizia tudo por si só; e foi assim que acordámos silenciosamente em preservá-lo, como se de algo preciso se tratasse. A tua mão pousou sobre a minha, mas nada no teu olhar se alterou e continuaste a fixar o vazio ou um ponto demasiado distante no horizonte. Sei disto porque lembro-me de não me conter e olhar para ti, quebrando a promessa que fizera a mim própria de nunca mais me exaltar quando me tocasses. É ridículo como me lembro que pensei que não seria assim tão difícil. É. É e continuará a ser. De cada vez que vieste ter comigo, de cada vez que repetimos este procedimento fundamental, o meu coração nunca abrandou.
Mas agora nunca mais vieste. Continuo sentada no mesmo degrau à tua espera, mas tu nunca mais vens. `S vezes quando ouço o quebrar longínquo das folhas secas, quando ouço o remexer dos arbustos, quando distingo uns passos lentos que se aproximam, tenho esperança que sejas tu. Mas nunca és.
E então sinto-me perdida, sem ti para construíres o silêncio comigo.

Julho de 2009

1 comentário:

Elisabete disse...

As vezes queremos tanto ver uma pessoa, que pensamos que é sempre ela a chegar...

Gosto muito mesmo...=]