23/03/10

As horas

As horas andam a passar muito rápido,
Agora que começou a Primavera.

         O tempo é a força maior do universo.
         O tempo vence tudo:
         A maior das felicidades,
         A mais profunda das dores,
         A ausência, a presença,
         O calor e o frio.
         Tudo é tomado pelo tempo,
         Tudo é ultrapassado pelo tempo.

Lembro-me de a ver sentada no parapeito da janela,
Abraçada ao peito para não deixar fugir o coração,
Ou o que ele guardava.
O amor era o mais precioso dos seus tesouros,
         Mas o amor é fraco e perecível
         Quando confrontado com as horas.

O relógio tiquetaqueava baixinho:
         O tempo – uma presença constante,
         Um avanço que persiste,
         Um monstro que consome.
Mas o relógio era pequeno,
E tiquetaqueava baixinho
Nessas manhãs solarengas
Em que ela olhava para a rua sem ver nada.
         Ela dizia-me para sentir tudo ao máximo,
         Puxar os sentimentos para fora
         Para os puder sentir na pele,
         Porque um dia eles iriam embora.
E, no mesmo gesto com que proferia o ponto final,
Empurrava o relógio pelo parapeito a baixo
Para ele deixar de tiquetaquear.

É o maior dos sufocos, o de ouvir as horas a passar.

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