28/06/10

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Um dia pediste-me que saísse da minha bola de vidro,
Eu eu disse não.

Enquanto o mundo gira, eu fico.
Não vou,
Não cedo,
Não me deixo embalar em canções,
Não baixo os braços no mar,
Não ando à chuva para não me molhar.
Por isso é que não me vês aí arrastada por marés,
Enrolada na areia fria da noite,
Desesperada com o emaranhado da minha vida.
Toda a confusão que há em mim está fechada num círculo de vidro,
Como os meus papéis enfiados numa gaveta funda,
Como o pó varrido para debaixo do tapete.

Enquanto o mundo gira,
Eu permaneço estática dentro da minha bola.
Eu vejo-os chorar, eu vejo-os morderem-se,
Eu vejo-os berrar, arrancar os cabelos,
Eu vejo-os cair, eu vejo-os desistir,
Eu vejo-os a tentar de novo, mais uma, só uma vez,
Eu vejo-os errar.
Aqui, de dentro da minha bola, eu vejo tudo.
E julgo. E condeno.
Mas o que fica no fim
É uma intensa vontade de arrumar a desordem.

Enquanto o mundo gira,
E enquanto eu não giro,
Tu pensas que, sim, é fácil viver longe de tudo,
E longe de tudo, avaliar.
E eu digo: sim, é fácil, mas não é mais fácil do que deixar-me levar.
Se eu quisesse eu era como eles todos,
Bastava deixar de me importar,
Mas o que eu quero é viver dentro de uma bola de vidro.
Não me nego a sentir, eu quero sempre sentir tudo,
Mas quero senti-lo à minha maneira.

Um dia pediste-me que saísse da minha bola de vidro,
Eu eu disse não.
Mas posso deixar-te entrar, se quiseres.

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