Foge enquanto podes, disseste tu. Não por palavras, não, tu nunca falas. Foi com o teu silêncio. E eu fujo. Não que não quisesse ficar e não porque a fuga me faça feliz, mas só e só porque tu me disseste: Foge. O que provavelmente não sabes é que dizeres-me que fuja é o mesmo que dizeres-me, Vai. E se não disseres: Fica, então eu não fico e, portanto, vou. O teu silêncio, a tua ausência de um simples: Fica, equivale a uma ordem, daí que, se amanhã me vires a voar pela janela como quem vai e não regressa, fica sabendo que estou só a cumprir os teus pedidos. Não, eu não vou porque quero. Quero ir, sim, mas não é por isso que vou. Eu vou porque é o que tu queres que eu faça, e se tu queres que eu vá eu vou. É que, bem, posso ficar em sítios que não quero, mas nunca ficarei em sítios em que não me querem.
E porque o orgulho não é meu
e porque fujo ao sabor do teu orgulho,
o que eu quero é que tenhas saudades minhas,
me peças para regressar
e eu diga: Não.
2 comentários:
bastava só a última frase para estar excelente " É que, bem, posso ficar em sítios que não quero, mas nunca ficarei em sítios em que não me querem.", é tipo tudo o que eu quero dizer.
sim, dorian gray ♥
mas quanto a isso, custa tanto ao princípio. é uma dor imensa.
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