15/02/11

a casa do silêncio

Às vezes, quando a noite é calma,
gosto de pensar em tempestades
e de como antes eu dançava nelas
como um jogo de coragem,
como um preço de amor.
Chovias e trovejavas
e eu segurava as porcelanas
varria os cacos
e fazia-te ver que,
mesmo nos dias escuros,
há sempre lugares de sol.
Mas no meio dos trovões
e dos teus jogos de escondidas
esquecias-te da minha voz
perdida algures em textos de que fugias.
E quando a noite é calma
eu seguro no peito
e pergunto-me quando foi que me calei.
Porque se antes chovias em cima de mim
e eu fazia-te o sol ou sacudia-te a chuva,
um dia comecei a afogar-me
e precisei que me falasses
daquelas palavras que são cordas onde nos seguramos,
e então calei-me.
Foi aí que começou o nosso longo silêncio.

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