Que os teus olhos, Alice,
me apelem ao silêncio,
porque as tuas mãos pequenas
pensam que podem agarrar o mundo
e moldá-lo como plasticina,
não deixo.
Guarda esse ar sapiente,
essa testa paciente,
para quando os anos passarem
e me vires pequenina
a perguntar-te, O que faço?.
Que saibas de cor todas as letras do universo,
que o certo e o errado estejam escritos nos teus dedos
de forma a que os desenhes a cada gesto,
que não precises do meu colo,
da minha voz alarmada,
da chuva da noite danada,
para que te digam baixinho,
Não vás por aí.
Que as cores da certeza te durem para sempre,
espero eu, Alice.
Porque um dia destes vais ser maior
mas vais sentir-te mais pequena,
porque vais ver o mundo crescer tanto
que nem te vais lembrar como brincavas com ele
por entre os teus dedos cheios de verdade.
E vais ver que ele é duro,
Alice,
duro como as pedras,
como a tristeza.
Nada como a plasticina.
E que me encontres nesse dia,
me perguntes com os teus olhos grandes:
O que faço?
E eu te responda,
cheia de nada para te dar,
Diz-me tu.
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