15/09/11

A questão é: tu nunca chegaste ao ponto em que a dor é tão forte, múltipla e complexa que a tens de arrumar num baú, cavar um buraco e enterrá-la lá, para que os seus maléficos gases tóxicos sejam contidos ao ponto de se libertarem só - e na pior das hipóteses - de tempos a tempos em quantidades inofensivas para o ser humano. É esse o problema. Nunca irás compreender a minha dor, vais arrumá-la no balde social que convencionaste para a palavra "dor" e deixá-la lá com todas as restantes "dores" que te chegaram aos ouvidos. E vais tentar ajudar-me como ajudarias qualquer pessoa. Sou uma entre tantos pobres com uma senha na mão à espera que me dês da tua sopa, sou só mais um ponto percentual na tua estatística de problemas mundiais a resolver. E não sou orgulhosa ao ponto de fugir da tua pena, mas também não sou estúpida ao ponto de achar que o teu importo-me contigo quer dizer algo mais do que estás mal e eu, como líder-salvador-magnânimo-e-moralmente-correcto sinto-me no dever moral e ético de te ajudar.

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