09/10/11

calor tremido

Os dias em que me orgulho da senhora em que me tornei são frequentemente interrompidos pelas saudades da menina que fui. E se secaram as palavras não culpo a falta de sentimentos mas sim a falta de fé. Cresces e aprendes que palavras são só conjugações de sílabas que valem o que valem e prescrevem em segundos. Cresces e deixas de tentar apanhá-las todas numa rede de pesca para as guardar numa caixinha enfeitada. Mas tenho saudades, sabes? De sentir frio e procurar aconchego. De sentir aconchego e acreditar que é eterno. Eu, senhora, sei. Sempre quis saber e agora sei. E portanto já nada me parece cor-de-rosa, pequenino e doce. Tudo me soa efémero e mortal. Por isso é que quero tanto que chegue o frio: para sentir o peso dos casacos nos ombros, esmagar as folhas secas, fugir da chuva e tentar encontrar calor nas palavras de certeza que parece que nunca me vais dizer.

4 comentários:

disse...

*Os dias em que me orgulho da senhora em que me tornei são frequentemente interrompidos pelas saudades da menina que fui.* no mínimo fantástico, não poderia deixar de dizer isto. está sincero e bonito, porque o que é sincero pode não ser quentinho mas é sempre bonito, é sempre verdadeiro:)

disse...

quem agradece sou eu, por poder ler estes pedaços de ternura:)

Anónimo disse...

Lindo, lindo, lindo. Fico feliz em saber que, afinal, a boa escrita não morreu. Simplesmente, não é devidamente reconhecida.

Anónimo disse...

De nada :) pois é, talvez sejam sintomas do famoso "bloqueio" :|