20/11/11

Circundam-me mortos vivos
que querem comer as paredes do meu estômago.
E arranham-me as pontas dos dedos,
esmagam o meu canal auditivo,
apertam-me o nariz
e tapam-me os pulmões,
esgotam o oxigénio
e não me deixam respirar.

Martelam-me as memórias de outro dia,
como cantigas de sereias
que me querem afogar.
E são como promessas ao contrário,
correntes de ferro,
que me suspendem a centímetros do meu corpo,
e não me deixam entrar na minha cabeça,
me fazem gravitar em torno da minha vida.

E a sensação que tenho é que por um lado sou esmagada dentro de mim,
por outro lado sou expelida de mim própria,
e, enquanto mastigam as paredes do meu estômago,
tudo se banha em sangue espesso,
enquanto assisto aos meus movimentos,
como se estivesse presa do outro lado do espelho.

Tenho saudades dos dias em que as dores eram como penas doces,
porque tudo o que sinto agora são pedras dentro dos pulmões,
e rios por detrás dos olhos.

Tenho saudades dos dias em que não havia passado,
porque tudo o que sou agora é pedaços espalhados na atmosfera.

Quero ter-me de volta,
quero ter-me de volta,
para me poder dar a ti.

3 comentários:

Francisco Almeida disse...

Isto mexe comigo, uf.

Mariana Ambrósio disse...

Fantástico!

Anónimo disse...

Deixa que a dor te magoe, mas nunca deixes que te destrua. Nunca.

Força :)