28/01/12

Just for a moment.

Listening to the music the machines make, I let my heart break just for a moment. Listening to the music the machines make, I felt the floor change into an ocean. We'll never leave here never, let's stay in here for ever, and when the streets are quiet we'll walk out in the silence.
Às vezes questiono-me qual o sentido de guardar determinadas fotografias que reproduzem partes de uma vida que me pareceu outra e não esta mesma. E isso quer dizer que este fraccionamento da minha vida em dois pedaços está consumado, porque quando olho para elas já nem no fundinho do estômago surge um sucedâneo de ardor. De qualquer das formas, estas questões são inúteis, porque com ou sem sentido, sei que as fotografias e os vídeos da outra vida vão ficar. Nunca tive coragem para apagar nada.

25/01/12

Há que escrevê-lo, para que não me esqueça; e há que escrevê-lo o quanto antes, porque é rápido o risco de cair no esquecimento: é desejável querermos e trabalharmos para sermos o melhor que nos é possível, e aí nos distinguirmos dos restantes que, dispondo de maior ou menor potencial, optam por quedar-se no mínimo suficiente; mas há um limite para a busca do máximo e do maior, e esse limite varia de pessoa para pessoa, sendo certo que quando o ultrapassamos repetidamente, consecutivamente, caímos no outro lado do bom, que já não é um lado bom mas um lado a evitar - aquele lado em que nos despersonalizamos (nesse sentido mesmo - em que perdemos parte da nossa qualidade de pessoas) e nos instrumentalizamos em caminho para a perfeição. Pois bem, se há que procurar o mais, há que atender à razão para procurar o equilíbrio. E é esse mesmo equilíbrio que se ergue como principal limite, para mim: se eu quero ser das melhores, também quero ser a mais feliz de entre as melhores. E a felicidade é uma barreira que não convém ultrapassar quando buscamos a perfeição. Porque se é pena que as nossas pequenas glórias vão ser todas, o mais provavelmente esquecidas, enquanto vivermos, nós próprios nunca nos iremos esquecer de cada um dos momentos em que renegámos a oportunidade de sermos felizes, em que descurámos repetidamente o bem estar e nos coisificámos em busca da perfeição. E um dia o vício da ganância é de tal ordem que desaprendemos como apreciar um bom dia de sol com uma máquina fotográfica na mão.

24/01/12

Antes de ti eu vivia para as sextas feiras. Arrastavam-se os dias, ditos úteis, como massa de pão a escorregar lentamente por uma colher de pau. Arrastavam-se como velhas a atravessar a estrada num dia de pressa. E depois os dois dias de fim semana corriam ao sabor de dois minutos. Pareciam água a ser sugada ralo abaixo, aspirada pela força centrífuga. Um martírio. Mas um martírio tão frequente que ganhou moldes de quotidiano e tornou-se rotina. A rotina torna o difícil em menos difícil, e ao fim de alguns meses tornou-se fácil: suster a respiração à segunda feira, e ir largando ar pouco a pouco, até quinta feira à noite, hora de fazer a mala, expeli-lo de uma só vez, para ter os pulmões livres sexta feira e enchê-los do puro ar da casa. Domingo ao fim da tarde começava o nó a formar-se na garganta, um nó que eu logo reprimia convencendo-me que era só um suster de ar até voltar a ser sexta feira.
Mas depois apareceste e trocaste as voltas ao relógio. Desapareceu o martírio dos cinco dias de semana. Ganhei um novo pesar: o da constante e inelutável divisão de quereres. Quero estar aqui, quero estar em casa, quero estar em casa quando estou aqui e aqui quando estou em casa. Se sempre que venho a casa me lembro porque me aperta a garganta sempre que é hora de deixá-la, é certo também que em casa faltas-me tu, e a tua falta lembra-me porque é que me custa tanto sair daqui.

23/01/12

sis, sis

(em dezembro, com a máquina descartável)

dezembro

(com a fuji descartável)

para el cielo

(em dezembro, com a Fuji descartável)

algures

(Em dezembro, com a Fuji descartável)

22/01/12

semi-heterónimo

Mordo os lábios para espantar o sono. Ou para chamar o sono, não sei. Há hábitos que se criam, como o de recalcar medos à hora de deitar, folheá-los como revistas leves em tardes de verão, comê-los como cerejas, uma a seguir à outra, outro a seguir ao outro - e assim tornar-se o pouco no muito, o aceitável no insuportável. Criam-se, estes hábitos. Não nascem connosco. Tanto que ultimamente o que me tem pesado é o cansaço. Cansaço como uma corda áspera e desfiada presa a um peso que me pesa para baixo. Mergulho, fecho os olhos, e vou. Ultimamente pouco do medo tem reinado na hora antes de adormecer. Mas se os hábitos se contrariam, logo arranjam maneira de subir ao de cima, ou de emergir de baixo, não saberei determinar. O certo é que de uma maneira ou outra, lá estão eles: em sonhos ou pesadelos, dependendo da terminologia adoptada, habitam a noite. E se adormeci com o coração acelerado, com ele acelerado despertei. E se há cansaço antes de fechar os olhos, a primeira coisa em que reparo quando acordo é que ele não me abandonou ainda. O que me vale são os teus braços quentes e o cheiro do teu pescoço, os teus olhos sempre iluminados e sempre a iluminar-me: o que me vale é que por entre tanto medo e tanto cansaço a tomar-me de ponta, a tomar-me a mim, ainda quero ter-me inteira para te dar a ti. E é por isso que luto todos os dias por manter a sanidade mental, dentro das balizas do humanamente possível - não desconsideremos que todas as pessoas perdem a partir de dada idade parte ou a totalidade da dita sanidade -, manter a esperança, não tomar tudo como derrotas prováveis, falhanços inevitáveis, e querer ser inteira contigo. Inteiramente feliz contigo.

07/01/12

Quando te vi, arrepiou-me o calor que emanavas,
a felicidade fácil que por entre palavras explicavas,
e quis guardar-me do teu toque magnético.
Quando fugi, queimou-me a confusão do teu silêncio,
assombram-me as dúvidas,
gritaram perguntas, a todo o momento.
E quis guardar-te num livro de memórias,
depois de me explicares quem és.
Quanto te senti, quis ver-te em mim,
quis ter-te aqui,
 não quero ver-te fugir.