25/12/09

Reencontro (My body is a cage)



Ela queria pegar nele e embalá-lo nos seus braços, beijar-lhe a testa e garantir-lhe que estava tudo bem e que o que não estava, ficaria. Mas ela era pequena demais para o segurar entre os braços e ele era grande demais para se deixar embalar.

(A chuva cai.
Deixa-a molhar-me.
A chuva é feita de lágrimas.
Chora.
Deixa-me beijar-te.)

Ele queria segurar a cara dela nas suas mãos e pedir-lhe desculpa pela distância.

(A chuva cai.
Deixa-a levar-me.
A chuva é feita de água.
Grita.
Deixa-me partir.
Deixa-me perder-me.
Deixa-me libertar-me.)

Mas ela nunca o embalou nos seus braços. E ele nunca segurou o rosto dela nas duas mãos. Permaneceram como dois corpos à chuva, dois corpos no meio da estrada. Ela e ele, frente a frente, separados por cinquenta centímetros e pela imensidão do silêncio. Um silêncio carregado de palavras.
- Não quero que me cures.
- Não quero que te vás.
- Não quero que chores.
- Então, não vás.
- Não quero que me toques.
- Então não chores.
- Então deixa-me ir.

(A chuva cai.
Um dia, ela pára.
E a dor vai-se embora, com ela.
Mas agora, deixa-me libertar-me.)