26/08/09

Cidade Fantasma

Nenhum som nas ruas. Nada.
Não se ouve absolutamente nada,
Excepto o suave burburinho das folhas das árvores
A roçar umas nas outras, à mercê da brisa.

Nenhum corpo nas ruas. Ninguém.
Não se vê absolutamente ninguém,
Excepto eu, sentada no degrau das escadas,
Eternamente à espera de ver alguém.

E já me tenho habituado a este silêncio,
A esta permanente ausência de companhia.
Vou falando para mim mesma
E vou-me ouvindo.
Vou-me vendo a mim mesma
E sou-me vista.
E continuo a ouvir as folhas a balançar,
Atenta, perscrutando o meu ar,
Eternamente à espera de ver alguém.

Mas sou só eu nesta cidade.
Sozinha, neste lugar.
Um lugar que vive apenas dentro de mim,
Um lugar que sou eu mesma,
Um lugar que os mais ausentes
Chamam de Cidade Fantasma.

26 de Agosto de 2009

24/08/09

Há um pensamento que me persegue:

Só conseguirei sentir-me completa, totalmente unida e em paz comigo mesma, no momento em que alguém chegar para me fragmentar em mil pedaços. E é um contra-senso, eu sei, mas é a verdade. Mil pedaços em harmonia são melhores que um só eu em conflito.

19/08/09

É bom olhar para o passado:
Lembra-nos de quem fomos, um dia.
É verdade o que dizem,
É verdade que um dia aquilo que era embaraçoso,
Nos parece agora indiferente.
É verdade que aquilo que era especial,
Nos é agora embaraçoso.
É verdade que aquilo que nos era indiferente,
Adquire agora um toque de encanto.
O passado faz parte do presente.
Se as palavras tivessem sido diferentes,
Se tivéssemos dito outras,
Se tivéssemos optado por alternativas diferentes,
Agido de maneiras diferentes,
Então o presente era diferente.
Podíamos não estar aqui.
Provavelmente não estaria neste momento a segurar a tua mão
E tu não estarias a sorrir com as minhas palavras.
O passado faz parte do presente.
As coisas que nos fazem chorar, não podiam ter sido diferentes;
As coisas que nos fazem querer voltar atrás, não podiam ter sido doutra forma.
Porque é que teimas em esconder o teu passado?
Porque é que teimas em esconder-te dele?
Nunca chores pelo passado, e muito menos, te rias,
Pois quando falas do passado falas de ti, meu amor.
18 de Agosto de 2009

14/08/09

Pedras

Ele tinha os olhos sempre semicerrados,
Como se houvesse luz a mais, em todos os lugares.
Nunca sorria, pelo menos um sorriso amplo
Daqueles que se estendem até aos olhos.
Quando não falava, também não ouvia
Por isso ninguém falava com ele
E ele não falava com ninguém.
Sozinho nos cantos das salas,
Sempre de olhos semicerrados,
Ele olhava para tudo, mas não via nada.
Estava de tal forma fechado no seu mundo miserável,
Que nunca ninguém notava nele.
Não existia.
Mas tinha sempre um olhar cansado,
Perdido e em simultâneo concentrado,
Esforçando para conservar cada uma das suas tristezas,
Dos seus desgostos do passado.
Era compreensível: eram as únicas vozes que ele ouvia.
Um dia, perguntei-lhe porque se esforçava tanto por não viver
E, apesar disso, conservava a sua vida.
E mesmo sem me ouvir, respondeu-me:
“Quando perdemos o amor, perdemos tudo.
E perdemos o amor, apenas quando sabemos
Que não somos dignos de amar.
Que não somos dignos de que nos amem.”
14 de Agosto de 2009
Eu queria usar as palavras;
Queria que elas resolvessem tudo.
Dizendo palavras,
Podia acreditar no depois.

Eu queria acreditar nas palavras;
Queria que me dessem esperança.
Ouvindo as tuas palavras,
Podia exprimir-me melhor.

Eu queria ouvir as tuas palavras
E queria que me fizessem sorrir.
Sorrindo com as palavras,
Podia, assim, ser feliz.

14 de Agosto de 2009

04/08/09

Limite

Estou farta.
Farta de coisas que não aconteceram
Mas quase aconteceram.
Farta de coisas que não senti,
Mas quase senti.
Farta de perder e perder
E continuar a perder.
Farta de nunca ganhar.

Estou farta.
Farta de continuar parada no mesmo lugar,
Farta de não retroceder nem avançar.
Farta de viver outras histórias,
Que não a minha.
Farta de me sentir insegura,
Vazia e incompleta.
Farta de ter saudades de algo que nunca vivi.

Estou farta.
Um novo e refrescante vento sopra na minha direcção
E eu estou farta de não o conseguir sentir.

Muda-me, por favor.
3 de Agosto de 2009
A vida é um caminho.
Quando avançamos, há coisas que ganhamos.
E há coisas que perdemos.

“Por favor, vai-te embora.”

Uma frase recorrente
Que continua a ecoar na minha cabeça.

“Porque é que tens de matar o meu tempo?
Desperdiçá-lo com mentiras?”

Depois, lembro-me das lágrimas.

“Vai-te embora, não voltes.”

Lembro-me da porta a fechar-se
Como uma figura perfeita do meu coração:
Fechado, para sempre encerrado.

“Vai-te embora… vai…”

Repeti e repeti estas palavras pela noite fora.
Baixinho, como um lamento.

E, pela noite fora, esperei que abrisses a porta do meu quarto
E regressasses.

Há sempre coisas que perdemos, no caminho.

4 de Agosto de 2009

03/08/09

Compilação de pensamentos desiludidos

Porque é que me fazes perder o sentido?
Porque é que me fazes suspeitar dos meus próprios sentidos?
Porque é que me fazes querer ser mais, ser melhor, ser diferente?
Porque é que partes e te perdes sempre no caminho do regresso?
Porque é que me dizes essas palavras enfeitadas que não sentes?
Porque é que me fazes acreditar em ti?
Depois de todas as vezes em que partiste, continuei à espera que regressasses.
Depois de tudo o que levaste contigo, continuei à espera que me retribuísses.
Agora cresci: o mundo já não é o mesmo lugar.
Ainda há dias e que me esqueço que não sou como me sinto;
Ainda há dias em que divago no meu universo imaginário
E acredito que sou como esperas que eu seja.
Mas têm rareado, esses dias,
Porque agora eu cresci,

E então não quero ir dormir, porque sei que não vou sonhar contigo.
3 de Agosto de 2009