Mais um pouco daquela velha sensação de frustração: o querermos ir mas não termos para onde ir, nem como ir, nem com quem ir. É o que ele costumava designar por “solidão de acontecimento”, lembras-te? Claro que te lembras. Não há nada dele de que não te lembres. Quer dizer, talvez te tenhas esquecido de uma ou duas lágrimas, mas foram tantas que uma ou duas não faz diferença. E eu sei que é nisto que pensas enquanto mordes o lábio e afastas o cabelo dos olhos com a mão. Alice. Escreves o teu nome vezes e vezes e vezes para ver se o consegues fazer soar como quando era ele que o dizia. Alice, Alice, Alice. Mas parece-te tão pequeno, tão enfadonhamente redondo, tão desadequado. Quando ele o pronunciava, soava a poesia. Lembras-te? Claro. Hold your tears. Não! Ele costumava dizer isso quando via as tuas lágrimas a espreitar, enquanto segurava a tua cabeça nas suas mãos. E tu rias-te, porque ele dizia-o a cantar, como se fosse uma música dos Beatles. E agora ris-te ao recordares-te. Ao menos que a memória dele traga riso.
Por fim, Alice, resta-me dizer-te que não vale de nada engolires as tuas lágrimas, sabes? Elas acabam sempre por voltar com mais força, se as contiveres. Mas não as faças baratas. E sim, se queres saber, são inúteis: ele não volta, se chorares. Mas tu não queres que ele volte, tu deixaste-o ir, lembras-te? Sim, lembras. Claro.
Nesse caso, volta à tua “solidão de acontecimento”. Mas desta vez, pensa para onde irias, com quem irias e como irias, se pudesses ir. Alice.
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