(...) Não posso deixar de pensar que tenho um qualquer complexo de superioridade por achar que sou demasiado complexa para ser percebida. Mas,
ninguém vê as coisas como eu.
Ninguém sente as coisas como eu. É como se eu emitisse pensamentos em ondas que não podem ser sintonizadas por
ninguém. (...)
Desisti de achar que haverá alguém no mundo que me compreenda. Para quê desiludir-me mais vezes?
E agora?
Como toda a gente, eu não vivo sem empatia.
Eu não quero reduzir-me ou resumir-me em partes compreensíveis aos outros.
E odeio, acima de tudo, ser rotulada.
Inês pequena. Inês marrona. Inês certinha. Inês desastrada. Inês crítica. É odioso.
Eu sou mais que tudo isto e ninguém quer saber, porque as pessoas fogem do que é complicado.
E agora?
Vivo sozinha o resto da vida, dentro de um aquário onde só eu vejo estas cores e formas?
Vivo condenada a escrever os meus pensamentos em livros por serem demasiado complexos para os explicar a alguém e ter alguma reacção?
Invento pessoas na minha cabeça que percebam quem eu sou e como penso?
Recuso-me a ficar menos densa. A resumir-me em duas ou três palavras apreensíveis do exterior. Não quero ser outra pessoa. Não quero ser como os outros.
Mas sim: o caminho de Pessoa é um caminho complexo, é um caminho pesado, é um caminho triste,
é um caminho de solidão.
Agora - vivo exteriorizando-me em pequenas frases, textos, poemas, desenhos, músicas e fotografias, à espera que um dia alguém olhe para estes pedaços de mim e tente juntar as peças. E depois, perante um puzzle incompleto e incompletável, se veja a si mesmo.
Talvez um dia alguém queira
ver-me.
Talvez um dia alguém se
veja em mim.
Talvez um dia possa caminhar menos sozinha sem, para tal, ter de abdicar do meu ser.
Até lá? Vou ter um blog.