25/04/09

O outro lado do espelho

Ouves passos no soalho,
Vês uma sombra a passar
Mas ladeando a silhueta
Não há figura a caminhar.

Podes ouvir-me cantar
Canções velhas de embalar
Os sons que ouves no salão
São os meus passos a dançar.

Mas quando deslizas a porta,
Lento, p’ra não me espantar,
O silêncio toma o quarto
E não me podes espreitar.

Noite cerrada, no teu leito,
Sentes o meu aconchegar
O teu coração acelera
Com o meu calmo respirar.

Notas os lençóis deslizar
Sentes o meu calor,
E a minha mão delicada
Acarinha o teu esplendor.

Mas quando tomas coragem
De abrir os olhos p’ra ver
Não há ninguém a afagar-te,
Nem sombra no anoitecer.

O medo toma-te o espírito
E fechas os olhos lentamente.
A quietude instala-se de novo
Mal me sentes novamente.

Mas ver-me, tu não consegues,
Apenas sentir o meu aroma,
Apenas ouvir a minha canção,
O meu toque que assoma.

Porque eu não passo de um reflexo
Um choro sem dor nem alma
Um assobio no vento
Que ouves na noite calma.

Porque eu sou invisível
Aos olhos de quem não crê.
Sou o outro lado do espelho
Reflexo de quem não vê.

18 de Janeiro de 2009

Sem comentários: