21/11/09

Desencontro II

Não. Nada disso. O verdadeiro desencontro é o que ela, com os seus cabelos castanhos, representa para ele; e o que ele, com os seus olhos de cor indefinida, representa para ela. Não são formas diferentes de ver o amor. O desencontro consiste na presença ou ausência dele. O que ele pretende dela é a conquista. Ele gosta do flirt, de dizer as palavras certas na altura certa e, com elas, encantar; gosta do jogo de pormenores e de acções, de explorar, de descobrir, de desvendar e, com as suas palavras, prender e desprender. É isso que ele pretende, é isso que lhe dá prazer: a persuasão, a vitória, a conquista. É tudo um jogo com várias direcções, com várias opositoras. Assim, para ele, ela não é mais que uma peça de um jogo do qual ele tira o mais que pode sem que isso implique de tenha de dar de si em retorno. E não quero, com isto, dizer que ele é insensível, que tem mau carácter e intenções menos nobres. Não. Ele não pretende, com o seu jogo, magoar ninguém. Até porque é algo inconsciente. A verdade é que a destruição que ela sente em si não é culpa dele. A culpa é do desencontro. Ela não gosta de jogar. As suas palavras não têm qualquer fim a não ser precisamente a verbalização dos seus sentimentos. É que ela às vezes sente tanto que as palavras transbordam, e ela tem de as dizer. E este sentimento é algo tão exclusivamente intenso que ela só experiencia com uma pessoa de cada vez.
É esse o grande desencontro: para ele, ela é uma peça de um jogo cujo fim é a exploração e a vivência, é uma peça no meio de muitas outras peças, que ele joga em simultâneo; para ela, ele é sem dúvida exclusivo, não é uma peça, é o todo, o único todo.

21 de Novembro de 2009

2 comentários:

Luís Pais disse...

Isso não é inteiramente verdade. Existem pessoas que conseguem ser insensíveis ao ponto usarem os outros como simples peões, num tabuleiro ao qual eles chamam de vida. No entanto, não fica por aqui, pois existe outra parte, mais pequena que a anterior, que actuam com medo de uma queda, em auto-defesa ou algo do género, não permitem que alguém penetre no coração. E as atitudes deles, por muito que possa custar acreditar, são frias. Até que encontrem aquela pessoa.
Por fim, existem aqueles que conseguem ser amáveis com toda a gente que os rodeia. Normalmente, todos eles são pessoas ingénuas e com vontade de cruzar a vida com outra pessoa, desfrutar e acima de tudo ver um sorriso sincero. Não lhes é difícil abdicar de outros assuntos, nem muito menos do que gostam, para poder estar com aquela pessoa. E devido talvez, a esta dedicação, carinho. Acabam sempre por sair desiludidos.. Viver dia após dia é uma arte que cada um possui, e a estes, é importante conseguir que a outra pessoa sinta esta arte, sem questões, sem explicações. Tudo se sente e apercebe-se. Eu estou contigo..

Isa Meireles disse...

adorei sem dúvida, aquilo que escreves