03/04/11

Terra de ninguém

Quando olhei pela primeira vez
para o nada que cresceu à minha volta
com os meus olhos feridos de criança,
lembrei-me de todas as palavras sábias,
palavras mortas,
que me foram ensinando.
Nada vale em terra de ninguém.
Se o vento leva mas também traz,
o vento pára por aqui,
porque tenho os muros bem altos,
as janelas bem fechadas,
e um grande vazio,
cheio de nada,
cheio de ninguém.
Se me abriste a tua porta
e esperaste que me aconchegasse no teu colo,
fechasse os meus olhos feridos de criança,
devia ter te dito que eu não entro em casas de estranhos,
nem deixo que me afaguem os cabelos,
porque essas foram as palavras sábias que me foram ensinando.
Mas nada vale em terra de ninguém.
Também te devia ter dito que não caio em apelos,
não ouço frases feitas,
não me perco em teias de açúcar.
Estou tão alto que nem o vento me chega,
estou tão dentro que não ouço a tua voz.
E à minha volta apenas uma imensidão vazia,
um silêncio tenebroso,
um medo turvado.
E as palavras sábias de outrora,
as certezas que acalmam as lágrimas,
não valem aqui,
em terra de ninguém.

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