28/03/11

Tu nunca deixaste de ouvir de mim. Nem nunca vais deixar de ouvir de mim. E é isso que te faz mal, não é? Como eu continuo a aparecer-te à frente quando querias viver como se eu não existisse. E esforças-te tanto para fingir que eu não existo que chegas a acreditar que é verdade. E assim és feliz. Então ainda bem que és feliz, porque, sim, para mim sempre foi muito importante a tua felicidade. Tanto que às vezes esquecia-me o quanto infeliz me fazia lutar por sorrisos teus que sempre tardavam. Mas tão cedo não vais deixar de ouvir de mim. E gostava de poder dizer que o dia em que eu deixar mesmo de existir não vai ser o dia em que vais começar a respirar melhor. Mas vai. E tudo porque gostas de fugir, de te esconder, e um dia cometeste o erro crasso de me deixar entrar na tua fortaleza. Até me cuspires, como uma febre. E o problema é que não pudeste deixar de ouvir de mim.
Odeio clichés. Odeio medos. Odeio silêncio. Odeio incerteza. Odeio solidão. Odeio falsos sorrisos. Odeio perder. Odeio perder-me. Odeio chuva na primavera. Odeio estes dias, mas só estes dias. E sabes o que é? É que tu falas em clichés e eu, para ti, sou só mais uma frase feita que te faz desenrolar palavras.

27/03/11

É bom quando ele nos bate no peito,
de amor,
nos salta da mão,
flutua, trémulo,
distante do chão,
e, desacertado com a razão,
nos leva a lugares onde já estivemos,
mas que sabem sempre melhor
do que a primeira vez.

É bom quando ele se desamarra,
rói a corda,
perde-se dos fios
e nos deixa em medos
de nunca mais o voltarmos a ver.
É bom quando ele pulsa tanto,
que nos ardem os olhos,
nos queimam as bochechas,
nos tremem os lábios.


Mas,


o mau é quando ele a bater
é apenas a angústia a pesar.



23/03/11



Antes, as minhas fotografias eram cheias de sol.
Porque é que há dias em que gosto de pôr o dedo na ferida?
Juro que, mesmo no meio disto tudo, a ironia da realidade ainda me faz rir por dentro.

i don't waste the things i say.


Sabes o que é travar as lágrimas no peito a cada minuto de cada dia?

21/03/11

Sim, já ouvi. Tudo vai ficar bem. Quando?







Feira da Ladra, Março de 2011

23 de janeiro

Se endireitares as costas vais parecer maior. E os teus cabelos ruivos vão balançar mais - não é bom? Eu gosto de os ver balançar, como chamas numa fogueira, sempre hipnotizantes. Sabes que o frio e o calor vêm mais do coração que do corpo, e olhar para chamas numa fogueira aquece-me como se as tocasse sem que me queimassem. Lembram-me de casa. Em casa havia sempre fogueiras no inverno. Parece-me que ando com frio crónico: duches quentes, cafés fervidos, fogueiras acesas - são pensamentos que me aconchegam e aquecem, mas o frio permanece. Tal como os teus cabelos quentes. Gostava que fossem meus e os pudesse escovar todos os dias. Ia parecer que acendia uma lareira todas as manhãs, não ia? Margarida, olha para mim. Se endireitares as costas pareces maior, e os teus cabelos de fogo vão balançar como chamas. E assim já ninguém vai ver que o azul que tens nos olhos é das lágrimas que tens guardado por chorar.

os pardalões da Estrela.


All my old friends, they don't know me now.

(...) With my old friends it was so different then, before your war against the suburbs began. Before it began. Now the music divides us into tribes, you grew your hair so I grew mine. You said the past won't rest until we jump the fence and leave it behind. With my old friends I can remember when you cut your hair, I never saw you again. Now the cities we live in could be distant stars and I search for you in every passing car. The night's so long, yeah the night's so long. I've been living in the shadows of your song, been living in the shadows of your song. (...)

a solidão dos lugares vazios.


17/03/11

Nada de ódio por aqui, ó.

os estúpidos fazem os outros de estúpidos.

Há pessoas que estão sempre certas ou pelo menos nunca estão erradas, e, consequentemente, há pessoas que estão sempre erradas, mesmo quando estão maisoumenos certas. Há pessoas que podem sempre falar alto e há pessoas que têm sempre de falar baixo. Há pessoas que fazem sempre o que querem e há pessoas que fazem sempre o que os outros querem. Há pessoas que não gostam de nada e há pessoas que cedem perante os gostos das outras. Há pessoas felizes e há pessoas que gostam de fazer os outros felizes. Há pessoas estúpidas e há pessoas que se fazem de estúpidas. E depois há pessoas que fazem as outras de estúpidas.

15/03/11

ah, eu era tão feliz na altura,

é uma frase que tem sido recorrente nas nossas conversas.
Estamos todos perdidos, não estamos?

14/03/11

Já estou há meses para mudar estas etiquetas.
No mundo, ouve-se pouco o que cada um de nós diz e tem para dizer. Gosta-se muito de escândalos e pouco de verdades. E a melhor maneira de garantir atenção às nossas palavras é fazer cómicas e implícitas referências a piadas sexuais. No fundo, no fundo, os humanos são animais com pensamentos mais perversos.

13/03/11

O melhor de tudo é saber que a Primavera é sempre anunciada com muita chuva, e que as coisas da vida também costumam funcionar assim.



12/03/11

Se é certo que há muitas formas de morrer, então ela morreu de diversas formas, das quais ficou excluída a forma derradeira e última de morrer, aquela à qual nenhuma outra forma, nem de vida nem de morte, se pode seguir: a morte física e cerebral. E, vejamos bem, se a morte derradeira tem o mal de acabar com tudo – tema em torno do qual dissertam filósofos, poetas e padres, mas não eu – , também tem essa mesma vantagem. Já às outras mortes não se lhes pode atribuir a atenuante de que ao menos não há pior mal. Não. Se se morreu uma vez de dor não significa que não se possa morrer de seguida de medo, de fome ou de uma outra dor, ainda mais profunda e acutilante.
Foi então isso mesmo que aconteceu: ela morreu uma vez e outra e outra, por diversos motivos e de diversas maneiras. Foram-lhe tirando pedacinhos de vida, uns pequenos que se regeneravam facilmente para serem colhidos com crueldade momentos depois, outros grandes, que custavam a sarar e que iam sendo mutilados à medida que se reconstruíam. No fim restou pouco de vida. E, em seu lugar, nasceu dentro dela uma insaciável vontade de viver. Se, antes, nos seus olhos brilhava a tranquilidade do conhecimento e a sensatez da paciência, olhos esses que procuravas para te darem conforto, agora, ao olhares para eles, não verás mais uma inocente nostalgia mas sim um fulgor malicioso de sede de felicidade. Já não fala com tempo nem se perde a pensar nas pessoas, já não espera nada do mundo, sentada a cumprir os seus deveres em tardes chuvosas de Novembro, já não pede nada a ninguém nem dá nada a ninguém. Agora vê-la correndo de um lugar para outro, com medo de perder alguma coisa. Vê-la a rir alto e a falar alto, com um grande esforço para esconder alguma falha de sanidade. Não é a mesma pessoa. Quer dizer, é a mesma pessoa, mas esvaziada por dentro e preenchida de algo que não se pode dizer que seja ela. Ontem disse-me que era feliz - agora, sim, era feliz -, que se o mundo nos fode tanto, chega uma altura em que temos de deixar de nos pôr a jeito. E agora ela juntou-se ao mundo que vai fodendo os outros, e não tardarás a vê-la aí a matar outras mentes inocentes, porque um dia lhe mataram a sua inocência, muitas e muitas vezes.
Mas se é certo que podemos morrer muitas vezes e de muitas maneiras, o amor e arte não morrem nunca de vez, e é por aí que temos oportunidade de viver eternamente, para além de qualquer tipo de morte.

09/03/11

Não tens saudades de quando a cidade era nossa
e as pessoas eram pioneses ligados por elásticos
num quadro pendurado na nossa parede?
Não tens saudades de chegar a tarde a casa,
depois de um lanche prolongado
a ver o mundo passar?
Não tens saudades das minhas palavras
sempre prontas e confortantes?
Nem de me dares o braço,
de irmos menos sós por entre os medos
e de nos rirmos deles?
Não tens saudades de quando vimos o sol nascer
por cima de um cemitério?
Não tens saudades de quando eu te explicava a vida
em palavras fáceis,
ou quando compreendia as tuas histórias complicadas?
Não tens saudades das fotografias?
Não tens saudades da nossa casa?

E se tudo se perdeu,
alguma vez foi verdade?

indecidibilidade.

Sei que não quero ficar aqui. Mas agora, que me posso ir embora, deixei de saber se me quero ir. Não sei o que fazer, sabes? Não sei o que quero fazer, e se não posso confiar na minha vontade vazia então não posso confiar em mais nada. Por isso é que ainda aqui estou, por mais nada. Medo da mudança? Medo do arrependimento? Medo de não saber o que quero.




Eu sei que sou repetitiva. Mas também sei que estamos todos a precisar de sol e primavera.
E nestes dias têm sido poucas as coisas que eu sei.

08/03/11

O meu relógio parou e os outros continuaram a andar.

É assustador como o tempo anda a passar tão rápido. É assustador como já estamos em Março. É assustador como o ano passado soa simultaneamente a algo muito recente e a algo muito longínquo. É assustador como o meu coração parou algures entre Outubro e Dezembro e ainda não voltou a bater como deve. É assustador como já estamos em Março. É assustador como daqui a pouco é Verão. É assustador como tudo mudou, mas eu me sinto a mesma pessoa. E como todos os relógios avançaram, enquanto o meu nunca mais sai da mesma hora.

06/03/11

Sobe enquanto és leve
e não te percas nas palavras doces dela,
porque o que é doce pode queimar
como chamas na lareira.
E se te parece que ela seduz como o diabo
é porque ela é o diabo
vestido de nuvens,
ela é o diabo que te prende à terra,
ao fundo de ti,
mais perto do fogo,
porque o que é doce pode queimar.
Vai enquanto és só
e não te prendas ao tempo,
não te agarres às pessoas,
porque as pessoas vão sempre primeiro do que tu.
E não te iludas.
Nenhum coração excepto o teu
bate por ti e morre por ti,
porque é assim que nós somos:
vivemos sozinhos e
morremos sozinhos,
sempre sozinhos,
dentro das paredes do nosso corpo.
Não te iludas,
para um dia não acordares para a desilusão.
Eu não me importo e eu não estou aqui.

03/03/11



Basílica da Estrela.
Numa coisa somos tomos iguais, porque faz parte da nossa própria natureza: precisamos de comunicar para viver. Podemos ter tudo o que é biologicamente necessário à vida, mas se vivemos isolados do mundo não podemos afirmar que vivemos realmente. É sobrevivência. E eu sei que isto é uma verdade universalmente aceite e óbvia, mas o curioso é observar, na vida corrente, o quanto essa necessidade básica de comunicação se repercute no nosso comportamento. Tomamos o caminho mais longo só para irmos acompanhados, optamos por um prato menos do nosso agradado só para comermos acompanhados, chegamos atrasados ou adiantados só para chegarmos acompanhados. Assentimos com algo que não concordamos ou ficamos transtornados com constantes discórdias com alguém. Temos uma necessidade ridícula de dar a entender que estamos a fazer alguma coisa quando estamos sozinhos no meio de uma multidão. Falamos com estranhos, rimos com estranhos,  concordamos com estranhos, quando nos vemos sem ninguém. No fundo: cedemos. Cedemos para não ficarmos sozinhos, cedemos para não perdermos um fio de ligação com a humanidade, cedemos em nome da comunicação. Quando a cedência não é possível (o que resulta sempre do orgulho e nunca dos valores), fugimos, afastamo-nos, cortamos laços. E quando isso acontece deixamos de nos sentir humanos, porque os humanos precisam de comunicar.