30/10/09

Separação

Deitado no chão molhado,
Eu vi um corpo que julguei ser o meu.
E corri, corri para ele,
Tentei desesperadamente alcançá-lo,
Mas não consegui.
O corpo, que é meu, está muito longe
E eu não sinto o chão molhado debaixo de mim,
Não ouço o barulho das luzes intermitentes,
Nem os gritos de horror das pessoas,
As lágrimas choradas pelo corpo, que é meu.
E não te desiludas, porque eu tentei,
Eu lutei por regressar a mim,
Para poder regressar a ti.
Mas agora que a cena se vai afastando,
Emoldurada de um negro desfocado,
Sei que não há nada a fazer.
E vou. Vou para longe,
Vou para sempre.
E por favor acredita em mim:
Eu tentei ficar ao pé de ti.

30 de Outubro de 2009

25/10/09

Nós não nos lembramos de como era antes.
Já foi há bastante tempo e entretanto esquecemo-nos.
Não nos lembramos. Mas sabemos que era mau.
Era escuro e frio e monótono.
E também sabemos que víamos tudo noutras cores:
O mundo era uma conjugação de tons derivados do negro.
E quem tu vês agora: este ser, que somos nós,
Que é feito de cor-de-rosa,
Cujos olhos vão brilhando, cujos lábios vão sorrindo,
Este ser, que somos nós agora,
Não era assim antes.
Antes as nossas noites eram lágrimas incompletas,
Agora as nossas noites oscilam do bom ao mau.
Antes a nossa mente era vazia e calada,
Agora a nossa mente voa e nunca há silêncio.
E nós não nos lembramos de como era antes,
Mas sabemos como é que mudou:
Lembramo-nos do momento em que uma luz,
Uma luz fraquinha mas quente, se acendeu.
E por mais que não nos lembremos de como era antes,
Sabemos que queremos que a luz nunca se apague,
Sabemos que não queremos nunca voltar lá.

25 de Outubro de 2009

23/10/09

Eu e o silêncio

Sou eu e o silêncio a partilhar este espaço do mundo
Eu sozinha e o silêncio a disputar lugar
E ambos ouvimos as minhas lágrimas,
As lágrimas da minha luta.
Estou presa num emaranhado de pensamentos
Que vão e vêm aleatoriamente.
E neste espaço do mundo, sou eu e o silêncio a lutar.
As lágrimas que ouves têm o som da derrota
Porque eu, num conflito contínuo comigo mesma,
Acabo sempre por perder:
Por perder a razão, por perder as palavras.
Não percebo as minhas dores,
Nem o tempo dos meus lamentos
E não te percebo a ti.
E estes pensamentos emaranhados
Fazem-me ficar fraca e deixam o silêncio ganhar.

E agora que não tenho palavras, não tenho como te dizer
Que não quero que te vás.
Fica comigo, fica ao meu lado, e expulsa o silêncio.

22 de Outubro de 2009

22/10/09

O mundo pára e avança ao teu ritmo,
Cresce com as tuas palavras,
E diminui com os teus silêncios.
O mundo espera por ti, sentado à janela.
Esse mundo que era só meu,
Mas que agora é também teu.
Esse mundo que o Mundo quer destruir.

22 de Outubro de 2009

Que me cale

Diz-me que não gostas de ouvir a chuva na rua
E as gotas no vidro da minha janela.
Diz-me que o vento te arrefece,
Em vez de te aconchegar no seu assobio.
E diz-me que nunca sentes a minha falta,
Nem mesmo quando as noites são muito frias,
Nem mesmo quando os sonhos te assustam.
Diz-me o quanto não gostas de mim,
O quanto as minhas palavras te aborrecem.
Diz-me para ir dormir porque a noite já vai longa
E que não tens precisado de mim para adormecer.
Ou então, pior que tudo, não me digas nada.
Não me digas nada, e assim pode ser que eu perceba
Que não tens mesmo nada para me dizer.

22 de Outubro de 2009

20/10/09

As pessoas vivem de problema em problema. Quando se resolve um problema há sempre um novo para resolver. Porquê? Não, ninguém tem uma vida naturalmente tão problemática. A verdade é que nós criamos problemas. Ninguém consegue lidar bem com a felicidade plena e, portanto, vamos criando entraves para além dos que existem naturalmente, para nos sentirmos vencedores, lutadores, para acharmos que somos sofridos! Sim, porque uma vida sofrida é uma vida vivida. E resolver problemas sabe muito bem.
Às vezes pergunto-me como seria se eu não fosse como sou e tu não fosses como és. Se eu não fosse como sou, não saberia nunca como é que tu és. E se tu não fosses como és, nunca me farias ver o que eu sei que vejo, mas não tenho a certeza. E se eu não fosse como sou, não sofreria tanto por antecipação. Porque, sim, é o que eu tenho andando a fazer.

18/10/09

Posso jurar que ouvi o teu coração acelerar
Como um som distinto na multidão gritante.
E quanto mais alto o ruído envolvente,
Melhor eu o ouvia bater.
E posso jurar que algo no teu palpitar
Gritava o meu nome,
Algo suprimido pelas circunstâncias,
Algo enterrado pela dor.
Algo no teu palpitar desesperava por mim.
E nos teus olhos sinceros,
Reflexo da pureza do teu ser,
Da alegria supérflua em que vives,
Alguma réstia de escuridão
Pedia-me que te iluminasse.
Posso jurar que, no momento em que te aproximaste
Do meu tempestuoso mar de pensamentos,
Eu ouvi-te dizer num claro sussurrar
Que não expressaste com a voz, mas com o olhar,
O quanto me querias para ti.
E juro por minha alma perdida
Que podia ouvir a tua palpitação em qualquer lugar
Sempre, em cada momento,
Mesmo que já não a ouvisse desde a eternidade.
Pois como podia eu esquecer-me do teu som
Após o momento em que te aproximaste do meu peito
E em que o teu coração acelerou tão claramente
Que era mais que sangue a corre-te nas veias?
Como podia eu esquecer-me do momento
Em que o universo repôs as suas dívidas,
Me cessou todas as dúvidas,
Quanto, tão próxima de ti, pude ver que me amavas?

11 de Maio de 2009

(não sei porque é que não publiquei isto 
em Maio, mas mais vale tarde que nunca!)

My skin

I’ve been feeling you a little farther
Just one step and you’ll be gone.
And I wonder how we came this far
With no tears to rely on.

It hurts in my heart when I dream,
It hurts in my eyes when I see
The shinning lights in your eyes
Reflecting the light within me.

Take my hurting hand
And see from where I stand:
I'm trying to take control,
But it's oh so hard to let go.
And I don't think you'd be laughing
If you were wearing my skin.

You can never be too clever
You can never be too wise.
And if you seek for perfection
You’ll get lost in your disguise.

And once I feel you are going
I look for a way to make you stay.
Don’t you realize that I need you,
That you’re way too far away?

Tell me how can you be leaving
If you haven’t arrived yet.
We have been growing apart
Since the day we’ve met.
And I don't think you'd be laughing
If you saw my eyes are wet.

18 de Outubro de 2009

16/10/09

Conflitos da meia-noite

Senti-me tão perdida,
E temi pelo meu coração.
Agarrei-o com as minhas mãos
Guardei-o firme no meu peito
E depois fechei os olhos.
Não me consigo lembrar de ti.
Não é absolutamente assustador?
E eu lembro-me como me fazias sentir
Mas para sentir uma pequena parte disso
Tenho de me lembrar de ti.
E eu não me consigo lembrar de ti.
A música continua a soar nos meus ouvidos
E eu sinto-me tão perdida.
Tu. Os teus sorrisos. Tu. Os teus olhos.
Tu. Tu vais chegando
Pouco a pouco à minha memória.
E o meu coração bate tão rápido
Que o ouço, mesmo por cima da música.
As minhas mãos tremem, soltando-o
E deixam-no bater livremente.
Vês as minhas lágrimas?
Encontrei-me. Encontrei-me porque te quero aqui,
Quero-te sempre aqui, como dantes.

E tremo quando penso que
Podes não te lembrar de mim.
Eu sei que eu já fui há algum tempo
Mas tu prometeste que nunca te esquecias.
Lembras-te como eu te fazia sentir?

16 de Outubro de 09

15/10/09

Eu sou a mão segurada nos teus dedos,
A mão que guardas dentro das tuas mãos.
E tu és a palavra pronunciada nos meus lábios,
A palavra que treme baixinho na minha boca.
Eu sou a canção que soa nos teus ouvidos,
O sonho que brinca com os teus cabelos.
E tu és o medo que toma os meus olhos
O medo que rouba a minha voz fraca.
E o que eu sou, o que quero ser
São apenas palavras que embalam
Palavras bonitas que me fazem sorrir.
E o que tu és, tentando não ser,
É todo o mundo que eu não sou para ti:
És o medo, és a esperança,
És as lágrimas, és a luz.

15 de Outubro de 2009

12/10/09

Quando  cheguei ao meu  quarto a primeira  coisa  que  fiz,  antes  de  cair na minha cama,  antes mesmo de abrir os olhos e soltar as minhas lágrimas, foi dar corda à caixinha de música púrpura arrumada na minha estante das coisas velhas. E então, caída na minha cama, eles vieram: milhares de pensamentos dolorosos, envolvidos na luz cor-de-rosa do sol tardio filtrado pelos meus cortinados, milhares de memórias carregadas de lágrimas imperceptíveis. E a caixinha de música trouxe-me sons de um outro tempo que não era feliz, nem era cor-de-rosa, mas era o meu lugar confortável de saudade e desespero. Então, os meus lábios disseram: “Vem. E faz a dor desaparecer.” Essa dor que é o meu passado, o motor do meu escrever.

09/10/09

Conflito

Eu nunca tive medo de sentir,
Mas sempre tive medo de me perder.
E o mais difícil é perceber
Como ceder o meu coração
Sem oferecer todo o meu ser.

Pois nós, os seres de coração,
Pensamos sempre
Que dar o coração é dar tudo.
E nós, os seres de razão,
Temos sempre aversão
A dar tudo pelo coração.
E depois o que me vale?
Tu: o adormecimento das dores,
O entorpecimento das dúvidas.
E então nós, os seres de coração
Acabamos sempre por ceder,
Por dar todo o nosso ser.
E nós, os seres de razão
Acabamos sempre por nos iludir
E acreditamos que somos nós
Os que escolhemos sentir.

E eu, que nunca tive medo de sentir,
Perco todo o medo de me perder,
Quando, ao teu lado, me sinto encontrada.

8 de Outubro de 2009
Hoje partiste, despediste-te como se regressasses à noite, com os dois beijos habituais.
          Mas não regressaste.
E é certo que partes todos os dias e regressas todas as noites. Mas nunca me acordas para eu te ver e é sempre como se tivesses ido para sempre.
E eu já me habituei ao silêncio da tua ausência. Mas sempre, sempre soube que voltavas.
          E hoje, não regressaste.
E sabes? Eu sei que a vida é melhor sem te ter. Ao menos não vivo no terror de te vir, um dia, perder. Mas o que não sei é porque é que continuo a querer que regresses, todas as noites.

20 de Julho de 2009

08/10/09

Magnetismo

Tu enrolas-me nas tuas palavras
E levas-me para os teus caminhos.
Prendes-me nos teus olhos,
Atrais-me para o teu redor
E fazes-me querer ficar.
Tu adoças-me e alegras-me
E prendes-me nas tuas teias.
Acordas-me e entorpeces-me
E fazes-me querer ficar.
Contigo, serve todo o lugar.
Porque onde hás tu, há sorrisos,
Há palavras que me aquecem o espírito,
Que me atam, que me encerram
Numa espécie de intensidade leve.
E mãos que me prendem
Sempre, sempre, ao teu redor.
E, então, fazes-me querer ficar.

8 de Outubro de 2009

05/10/09

Do Abismo (e outros demónios)

O chão que sempre foi firme
Cede agora, debaixo de mim,
E sinto-o a desfazer-se em pedrinhas pequeninas.
Talvez devesse voltar atrás,
Sair daqui antes que me afogue,
Mas olhando para o infinito do Abismo,
Parece-me estranhamente delicioso.
E o que mais quero é mergulhar.

O chão que sempre foi firme
Vai sumindo debaixo dos meus pés.
E agora sei que não posso voltar atrás:
Alguma força me atrai para este lugar
E olhando para o infinito do Abismo
Parece-me estranhamente tentador.
E não me consigo forçar a caminhar.

São as tuas palavras.
Elas cantam-me e embalam-me
E atraem-me para o Abismo.
E não quero voltar atrás,
Não consigo voltar atrás.
Quero mergulhar: perder a razão e o sentindo,
Perder o chão debaixo dos meus pés.

São as tuas palavras,
Docemente, declaradamente,
A empurrar-me para o Abismo.
E o chão que sempre foi firme
Desaparece debaixo de mim.

Mergulhada no Abismo
Sei que só as tuas palavras me fazem flutuar
Me mantêm acima do chão,
Me impedem de cair.

3 de Outubro de 2009