31/12/09

Funny how you can shake me. With just one word, hun? With just one silence.

29/12/09

“It's the hard part, but the true love way”

É um caminho difícil.
Sobretudo porque não há luz,
Sobretudo porque dói,
Sobretudo porque as pernas me pesam
E me falta o ar.
É um caminho difícil,
Mas é o único caminho.

Não te vou deixar aí, pois não?
Fechado no teu quarto escuro,
Fitando o vazio,
Submerso em águas verdes,
E longe, tão longe de mim.
Recuso-me.
Não fui feita para desistir,
Muito menos de ti.

Por isso, insisto,
Piso os cacos de vidro,
Caminho sobre as brasas,
Nado no mar gelado,
Como queiras: insisto.

E continuo a gritar
(pode ser que me ouças),
Continuo a nadar
(pode ser que te encontre),
Continuo a amar-te
(pode ser que regresses).
Não te vou deixar aí, pois não?

25/12/09

I’m standing on the stage of fear and self-doubt. It’s a hollow play but they’ll clap anyway. I’m living in an age that calls darkness light. (...) I’m living in an age whose name I don’t know.  Though the fear keeps me moving, still my heart beats so slow.

My body is a cage.
We take what we’re given.
Just because you’ve forgotten,
Doesn’t mean you’re forgiven.
(...)
But my mind holds the key.
Still next to me.
My mind holds the key.
Set my spirit free.

My body is a cage, Arcade Fire

Reencontro (My body is a cage)



Ela queria pegar nele e embalá-lo nos seus braços, beijar-lhe a testa e garantir-lhe que estava tudo bem e que o que não estava, ficaria. Mas ela era pequena demais para o segurar entre os braços e ele era grande demais para se deixar embalar.

(A chuva cai.
Deixa-a molhar-me.
A chuva é feita de lágrimas.
Chora.
Deixa-me beijar-te.)

Ele queria segurar a cara dela nas suas mãos e pedir-lhe desculpa pela distância.

(A chuva cai.
Deixa-a levar-me.
A chuva é feita de água.
Grita.
Deixa-me partir.
Deixa-me perder-me.
Deixa-me libertar-me.)

Mas ela nunca o embalou nos seus braços. E ele nunca segurou o rosto dela nas duas mãos. Permaneceram como dois corpos à chuva, dois corpos no meio da estrada. Ela e ele, frente a frente, separados por cinquenta centímetros e pela imensidão do silêncio. Um silêncio carregado de palavras.
- Não quero que me cures.
- Não quero que te vás.
- Não quero que chores.
- Então, não vás.
- Não quero que me toques.
- Então não chores.
- Então deixa-me ir.

(A chuva cai.
Um dia, ela pára.
E a dor vai-se embora, com ela.
Mas agora, deixa-me libertar-me.)

Cor-de-rosa

Respiro fundo. Os  meus olhos ficam quentes e húmidos; o meu coração fica inundado; a  minha respiração fica suspensa. Tenho medo. Não sei de quê, mas tenho medo. Dói-me a barriga e o peito e as minhas mãos estão a tremer. Outra lufada de ar. Sinto-o chegar aos pulmões, mas é como se se tivesse perdido no caminho. Não estou bem, sabes? Sinto que perdi alguma coisa. Não, não foi o ar que inspirei. Não, não foi o sono. Não, não foi a vontade. Perdi algo que nunca cheguei a ter, e isso é das piores coisas que se pode perder. Tenho tantas saudades; saudades de um tempo que não vivi. E essas são as piores que se podem ter. Tenho medo. Não sei de quê, mas tenho medo. E o meu medo é cor-de-rosa.

I want to roll around like a kid in the snow,
I want to re-learn what I already know,
Just let me take flight,
Dressed in red, through the night,
On a great big sled.

I want to wish you merry Christmas,
Ho Ho Ho.

A Great Big Sled, The Killers


23/12/09

É bom andar torto em estradas direitas
E tentar andar direito em caminhos tortos.

E tu bem que sabes disso.

É bom ouvir a chuva a cair nas folhas verdes,
E sentir o sol na barriga,
E pensar que o mundo é nosso.

É bom esquecermo-nos das estradas,
Ignorarmos os caminhos,
E ficarmo-nos pelas pedras
Onde nos vamos sentando.

É bom contrariar os sentidos.
E ouvir a tua respiração,
E fechar os olhos.
E contrariar a razão.

E eu bem que sei disso.

E é bom não sentir o chão,
Não ver o chão,
Não ter um chão.

E nós bem que sabemos disso.

22 de Dezembro de 2009

18/12/09

Janelas

Todos nós somos feitos de janelas.

Todo o mundo exterior
Passa pelo vidro das nossas janelas.
É através dele que vemos
O Sol que brilha no céu,
A chuva que cai no passeio,
E o vento que abana as árvores.
É através dele que vemos
O bom e o mau,
O quente e o frio,
O presente e o ausente,
O real e o ilusório.
É através dele que vemos tudo.

Mas as nossas janelas são todas diferentes:
Têm cortinados diferentes,
E caixilhos de diversas medidas,
Têm vidros de cores distintas,
E de variados polimentos.
E os parapeitos das nossas janelas
São feitos de pedras diferentes,
E têm diversas profundidades.

Há janelas de vidros reflectores,
Há janelas de vidros cor-de-rosa,
Há janelas de vidros negros e partidos,
Há janelas com diversas combinações.
E através das nossas janelas variadas,
Vemos sempre tudo de forma diferente.

Sim, todos nós somos feitos de janelas.
Mas não há duas janelas iguais.

11 de Dezembro de 2009

Fios e justiças

(Quando vivemos toda a nossa vida
A condicionar a nossa mente,
A conduzir os nossos pensamentos,
A submeter os nossos actos
Ao critério da justiça,
É inevitável chegarmos à questão:
A nossa existência é justa?)

Se o tempo fosse um fio,
Tu estarias numa ponta,
E noutra ponta estaria o teu destino.
E eu? Eu seria uma conta de madeira,
Que entrou no fio da tua vida
E interrompeu o teu percurso
Em direcção à outra extremidade.

Mas o tempo não é um fio
E eu não sou uma missanga
E o teu percurso não foi interrompido
Quando eu entrei na tua vida.
E, por favor, ensina-me a dar-me valor:
Transforma-me num fio.
Não posso sentir-me um obstáculo,
Que existiu mesmo antes de nascer.

18 de Dezembro de 2009

09/12/09

A mais absoluta das verdades é que tudo é relativo.


(e um dia vou escrever um poema sobre isso)

08/12/09

Estou sempre à beira de um poço.
É fácil empurrar-me:
Basta uma palavra;
Basta um momento;
Basta um pensamento.
Estou sempre à beira de um poço,
Sempre em queda iminente,
Sempre em estabilidade frágil.
E o meu poço não é um lugar feliz:
É escuro, é frio, é silencioso
E, sobretudo, está longe de ti.
Acredita: eu tento sair do poço,
Eu luto, eu salto, eu escalo,
E, sim, às vezes consigo ver o céu
Sentada no chão frio do meu poço,
E sinto-me melhor;
Mas uma vez que caí,
Demoro muito tempo a sair dele.
As paredes acabam por ceder,
Acabam por desaparecer,
E eu acabo por voltar ao Mundo,
Mas uma vez que caí,
Demora sempre muito tempo.

7 de Dezembro de 2009

06/12/09

Como um elefante numa loja de porcelanas

Tenho um pedaço de vidro na minha mão,
Um pedaço de vidro bem quente,
Um pedaço de vidro cheio de luz.
E guardo-o sempre entre os meus dedos,
Seguro-o firmemente,
Mesmo quando fica tão quente que queima.
Mesmo quando fica tão brilhante que ofusca.
Mesmo quando fica sem calor.
Mesmo quando fica sem luz.
É em forma de esfera e é pequeno,
Mas enche toda a minha mão.
É sólido, firme, consistente,
Mas é frágil,
É tão delicado que o meu maior medo é quebrá-lo:
Apertá-lo com tanta força e desfazê-lo
Ou deixá-lo cair no chão;
Despedaçá-lo.

E o pedaço de vidro na minha mão
É aquele me deste, é teu.
E eu conheço-me bem o suficiente
Para saber que não conseguiria viver
Sem ter esta luz entre os meus dedos,
Sem sentir o calor na minha mão.
Então, o meu maior medo é magoá-lo,
Fazer-lhe perder o brilho,
Roubar-lhe a luz,
E segurar entre os meus dedos
Um mero pedaço de vidro,
Que não tem nada de ti.

6 de Dezembro de 2009

02/12/09

Lugar comum

Desde que estejas sempre agarrado à minha mão,
Desde que sejas sempre firme,
Desde que sejas sempre real,
Desde que te possa sentir,
Que te possa ver,
Que te possa ouvir,
Desde que existas.
Sim, basta existires,
E não há medo,
Não há solidão.
Desde que eu possa
Pousar-me em ti,
Não há mais nada,
Não há mais ninguém.

E é bom sentir-me assim.
É bom sentir saudades,
É bom sentir-te a ti.
É tão bom.
É melhor que palavras,
Que em vão tentam explicar.
É melhor que tudo.

2 de Dezembro de 2009