31/12/10

Qual é o objectivo de dizer coisas que não vão durar e que sabemos que são efémeras e morrem como tudo o resto? E que sentido faz chamar essas coisas de "verdade" e de "certeza"? A verdade e a certeza deviam ser para sempre. Nunca deviam morrer. Mas morrem, como tudo o resto e, sendo assim, deviam ter outro nome. Ou então não existem verdades. Ou então não existem certezas.
Sim, eu perdi a minha fé. Em tudo, porque já nem acredito nas verdades.
E dispenso que mas digam.

29/12/10

Alguém, por favor?

Buracos no coração

A sua figura estava sempre delineada por nuvens cinzentas,
E falava sempre alto demais, ou baixo demais,
Oscilando entre o sorriso triste
E o semblante carregado.
Caminhava como se não quisesse chegar a lado nenhum,
E talvez não quisesse mesmo,
Ou então só lhe doíam os pés e os joelhos.
Não. O que me dói é o coração.
Os olhos enchiam-se de chuva
Quando olhava muito tempo para o vazio.
E, por isso, evitava fazê-lo:
Estava sempre com os olhos pregados em letras e palavras,
Presas a páginas que se moviam freneticamente.
Parecia nervosa e, em simultâneo apática.
Nunca cheguei a saber como se chamava,
Porque a única vez que me falou,
Quando a vi através de um vidro emoldurado,
Foi para me dizer, com um sorriso de pedinte:
Porque é que toda a gente tem tanto a dizer sobre buracos no coração
E nunca ninguém me disse como se tapam?

28/12/10

Acho que não estou bem.
Tenho andado a viver dentro de uma bola de sabão com medo que ela rebente.
E agora rebentou.
E acho que não estou lá muito bem.
Nada bem, até.
Não, eu não estou bem.

27/12/10

Lisboa, Lisboa.




um dia escuro









Lisboa, 16 de Dezembro de 2010

um dia gelado





Lisboa, 16 de Dezembro de 2010
Acho que estou feliz. Mas não sei porquê. Acho que é só por não estar triste. Como se tivesse aberto a porta do armário, no escuro, e constatado que de lá não saem nenhuns monstros.

26/12/10

Do bad things happen for the best?

"As coisas têm a importância que nós lhes damos."

25/12/10

Keep the car running.

É correr sem sair do sítio
Isto de me procurar
Sem querer encontrar-me.
Tenho medo, sabes?
Medo de descobrir
Que me perdi para todo o sempre
Dentro de espelhos
E gaiolas
E janelas abertas
Que não se fecham,
Nunca se fecham.

Onde é que estás?
Quero ver o teu rosto,
E pisar os teus pés,
Para depois me abraçares o ódio
E o derreteres com as tuas respostas
A todas as minhas perguntas.

Se o meu coração ainda bate
Porque é que o sinto parado?

Se não tínhamos mais por onde ir
Porque é que tenho pena de não ir a lado nenhum
Contigo ao meu lado?
Tenho uma dúzia de medos. Um deles é de acordar. O outro é de ficar a dormir para sempre.

24/12/10

não tenho no coração Natal,

tenho ódio, muito ódio, não sei bem porquê, mas acho que te odeio mesmo. Como é que de repente significo tanto para ti como uma "velha amiga" daquelas com quem falavas e que te mandam mensagens de Natal? Não sou mesmo nada de nada de nada para ti e, bolas, isso não me deixa triste, deixa-me mesmo zangada de ódio. E é Natal, caramba, devia haver amor no meu coração.

estado de espírito momentâneo:

Acho que gosto de mim o suficiente para querer alguém que goste de mim, por isso hoje foi o dia em que deixei de te querer. Pelo menos enquanto tenho a lareira acessa e não preciso de abraços para me aquecer o coração.

23/12/10

hoje foi um dia bom,

hoje não chorei, hoje não senti falta de te ver, hoje acho que nem te quis ver, hoje quase não me apertou o peito, hoje quase te odiei, o que significa que hoje quase que te amei menos. Amanhã é Natal.

22/12/10

hoje foi o primeiro dia em cerca de quatrocentos e cinquenta e oito dias em que não falei contigo, e a sensação que tenho é de estar em reabilitação, ou desintoxicação.

O meu organismo sente falta de alguma substância que só a tua presença produzia, a minha cabeça lembra-se de ti periodicamente, e a lembrança provoca alguma reacção automática nos meus canais lacrimais que me faz pensar que agora seria uma boa altura para me dedicar a uma carreira de actriz de filmes dramáticos. Dou por mim a abraçar a minha própria cintura e a querer levantar-me da cadeira e sair à rua para sentir a chuva ou o vento frio e tentar não pensar em ti. Não, não estás sempre na minha cabeça, em empurro-te para baixo de tempos a tempos. Quando assim é, juro, não sinto nada. Mas não sentir nada não é bom. Se eu quero, por um lado, adormecer, também tenho medo de, assim que fechar os olhos, não acordar nunca mais.

Mas sim, está tudo bem.
Eu estou bem.
Eu fico bem.
Agora sinto-me sozinha na minha cabeça e vazia no meu peito. É melhor assim que naqueles momentos em que tenho a cabeça cheia de frases e palavras e memórias e o peito cheio de um buraco de dor.

20/12/10

Fodasse, porque é que tudo à minha volta me lembra de ti?

Apatia

Não tenho nada a dizer. Acho que perdi a fé na poesia. Acho que dizer alguma coisa não faz nada por mim, nem se puser as palavras doridas em frases cantantes. Ou então só quero guardar tudo dentro do meu peito e esperar que expluda. Não tenho nada a dizer porque não quero dizer nada. Porque não quero resumir tudo num conjunto de frases. Porque não quero que fiquemos reduzidos a um poema.

19/12/10

O meu dia-a-dia consiste em fazer coisas impossíveis com sucesso. Esta é só mais uma, e pronto.
Love is the worst thing that can happen to you.

15/12/10

yo-yos and mirrors:

As pessoas são ioiôs, vão e vêm. Partem-se, mas reintegram-se, às vezes como pedaços de espelho colados outras vezes como vidro refundido, porque às vezes ficam marcas e outras vezes não. Esquecemo-nos. Ultrapassamos. Ou então mudamos, mudamos mesmo, como de pedaços quebrados nasce um espelho novo, sem rachas. Mas nunca deixamos de ser ioiôs. E assim que caímos, há sempre a hipótese de, num salto, regressar ao mesmo sítio. E uma vez estando em cima, acabamos sempre por cair. Tudo por causa da força da gravidade, nada mais.

13/12/10

O meu maior medo é acabar como o Fernando Pessoa, que é o mesmo que dizer que o meu maior medo é a solidão. E o que é a solidão? É ninguém se rir das tuas piadas, nem ninguém chorar porque estás triste. É nunca chorares por ninguém a não ser por ti, porque, simplesmente, não há mais ninguém, só tu. Nunca ninguém chorou pelo Fernando Pessoa, porque nunca ninguém chegou a saber que ele era triste. Nem mesmo o Sá-Carneiro. Esse, chorou por ele mesmo, porque também era um homem só.

"I'm completely alone at a table of friends. I feel nothing for them, I feel nothing, nothing"

Nunca querias viver sem me poderes contar o que vivias, e nunca querias que eu vivesse algo que não te pudesse dar em palavras. O que é certo, hoje, é que dou por mim a falar comigo mesma sobre o meu dia. Eram tantas as coisas que teria para te contar, se ainda vivesses para me ouvir. Tudo bem, eu não me importo. Também não compreendias como eu compreendo as coisas que vivo e, bem, nunca gostei de relatar. Tudo bem, eu não me importo. É mentira o que dizem. É mentiram o que dizem. É mentira o que dizes. É mentira o que disseste. Nunca nada foi verdade.

E que piada tem viver se tudo o que vives fica preso na tua cabeça?
Não sei, porque também nunca vivi muito. Mas se calhar é por viver pouco que tenho esta estúpida necessidade de partilhar as ninharias. Que nunca partilho, na verdade. E já lá vai mais de um ano.

Não, não tem piada nenhuma. Está absolutamente tudo bem e eu não me importo.
my mind doesn't get a rest.

11/12/10

De todos os sons, o que gosto mais é o do teu coração a correr no peito, debaixo da minha cabeça.

lembro-me bem deste lugar:

(...) So when I'm lost in a crowd, I hope that you'll pick me out, I long to be found. The grass grew high, I laid down. Now I'll wait for a hand to lift me up, help me stand. I've been laying so long, don't wanna lay here no more, don't wanna lay here no more, don't wanna lay here no more. If everything that happens is supposed to be, and it's all pre-determined, can't change your destiny, I guess I'll just keep moving. Someday, maybe, I'll get to where I'm going.

o que vemos da janela é tudo aquilo que somos, e não me digam que não.




odeio indecisões:


08/12/10

O melhor de ser criança é querer ser-se tudo e poder ser-se tudo o que se quer. À medida que crescemos, apercebemo-nos de todas as coisas que queríamos ser e não fomos, nem somos, nem poderemos vir a ser. E aí parece que já não há mais vida, porque já não há mais sonhos.

05/12/10

Estou cheia de histórias para contar, sobre todas as pessoas do mundo. Sei todas as histórias de toda a gente, de todos os lugares, e tenho-as todas guardadas na minha cabeça. E tenho de as contar. Mas, mesmo que o tempo não me fugisse (e o tempo não foge, escasseia), não podia contá-las. Sempre que tento escrevê-las acabo por só conseguir falar de mim e nunca das outras pessoas do mundo. Há um bocadinho de mim em cada personagem de cada história e o mundo não sou eu. Sei as histórias de todas as pessoas, mas essas histórias estão como que disformes, pairando pesadas, sempre muito pesadas, como pesado é o pensamento e a visão. E não lhes consigo dar forma.
Talvez um dia o tempo cresça e uma hora volte a ter sessenta minutos, e sessenta minutos voltem a ter muitas histórias. Por enquanto, o mundo pesa-me em histórias que se vão empurrando umas às outras, à espera de serem contadas.

02/12/10

sweet thing, make my life sweet.



Eu não me quero perder.

E tenho de me procurar todos os dias para ver se ainda estou no mesmo sítio.