28/04/09

Distância

Passo a passo
Tento atravessar o fino fio
Que separa os nossos mundos.
Balançando, vacilando
Atravesso esta longa passagem.
Pequenos e trémulos passos
Tentam encurtar a nossa distância
E oscilando, hesitando
Avanço incansável.
Mas a cada passo que dou
Pareces mais longe
Absurdamente inacessível,
A cada passo que dou
Cresce o fino fio
Que separa os nossos mundos.
Parece que foges de mim
Nunca te alcançarei.
Se eu cair, não me apanhas?
Se o fio ceder, que farás?
Não podes para sempre
Esconder-te nas tuas muralhas.

E com isto em mente
Avanço incasável
Nos meus passos tremidos
Porque apesar de tudo
O maior erro humano
É o de continuar a tentar.

E eu continuo a tentar
Encurtar esta distância
Do fino fio que nos separa.

20 de Abril de 2009

A tua janela

As cortinas esvoaçam
Como que dançando com o vento
Que entra, gelado, pelo quarto.
E eu, a sombra
Sentada no teu peitoril,
Contemplo o céu e a tarde.
Avisto as nuvens que voam:
Já não fazem padrões.
Ouço os assobios do vento:
Já não formam canções.
E eu, a sombra
Sentada no teu parapeito,
Contemplo o céu que escurece.
Já nada brilha no céu
Que eu vejo da tua janela.
As lágrimas que me correm a face
Já nada choram.
Já nada é azul, como dantes.
Já nada canta no céu.

Por que tiveste de partir
Para sempre, da tua janela?
Agora já nada encanta,
Já nada sorri no céu.
Porque tiveste de ir
Para sempre, da tua janela?
Agora já nada é perfeito
Agora, já nada é feliz.
E eu, a sombra
Sentada no teu peitoril
Penso no tudo
Que agora já nada é.

E decido, no frio do vento,
Que se nada é como dantes,
Eu quero voar como tu.
Cair da tua janela.

28 de Abril de 2009

25/04/09

Eco

Eu sou um mar calmo e silencioso
Sem gritos, sem lágrimas, sem cor.
Apenas azul negro e profundo.
Nem brisa nem tempestade
Altera o meu respirar
Constante e ritmado.
Sou a razão pura e vazia,
Sou a voz consciente na tua cabeça.
Sou o eco que fica depois da canção
E a memória que fica depois do eco.
O mundo pode acabar
Com gritos, lágrimas e explosões de cor
Mas eu sou a calma
E não me hei-de perder,
Pois a paixão não reside em mim.
Sentir é apenas uma memória.
Sou uma máscara, um fantoche
Não tenho vida nos olhos,
Não sei como se sorri.
Sou o silêncio do pensamento
A monotonia de tom,
Nem sou mais nem sou menos.
Não sei sentir,
Até à fracção de momento
Em que o meu olhar pousa em ti.
Então, no fundo da memória
No mais interior de mim
Um eco longínquo explode
E concentrado num pulsar
O mundo é um frenesim.
Sorrio. Estou viva.

10 de Abril de 2009

O outro lado do espelho

Ouves passos no soalho,
Vês uma sombra a passar
Mas ladeando a silhueta
Não há figura a caminhar.

Podes ouvir-me cantar
Canções velhas de embalar
Os sons que ouves no salão
São os meus passos a dançar.

Mas quando deslizas a porta,
Lento, p’ra não me espantar,
O silêncio toma o quarto
E não me podes espreitar.

Noite cerrada, no teu leito,
Sentes o meu aconchegar
O teu coração acelera
Com o meu calmo respirar.

Notas os lençóis deslizar
Sentes o meu calor,
E a minha mão delicada
Acarinha o teu esplendor.

Mas quando tomas coragem
De abrir os olhos p’ra ver
Não há ninguém a afagar-te,
Nem sombra no anoitecer.

O medo toma-te o espírito
E fechas os olhos lentamente.
A quietude instala-se de novo
Mal me sentes novamente.

Mas ver-me, tu não consegues,
Apenas sentir o meu aroma,
Apenas ouvir a minha canção,
O meu toque que assoma.

Porque eu não passo de um reflexo
Um choro sem dor nem alma
Um assobio no vento
Que ouves na noite calma.

Porque eu sou invisível
Aos olhos de quem não crê.
Sou o outro lado do espelho
Reflexo de quem não vê.

18 de Janeiro de 2009

Vapor

São sonhos de cores incertas,
São desejos de tardes despertas
Submersos no íntimo profundo,
São fantasias de um outro mundo.

São lembranças que eu esqueço,
São momentos em que permaneço,
São lágrimas sem história nem dor,
São sonhos de incerta cor.

São memórias, são luzes apagadas,
São velas ardidas e queimadas,
São relances de um sorriso vão,
São sonhos em segunda mão.

São desesperos que ninguém atende,
São vozes que ninguém compreende
São gritos que caem, quebrados,
Que se fragmentam em mil bocados.

Não são mais que simples pó,
Partículas de gente só,
São fantasmas que vagueiam.

Não mais concretas que vapor
São estas memórias de dor
Desejos que me bloqueiam.

8 de Dezembro de 2008

O meu céu rosado

Estou deitada no chão molhado,
No meu vestido de papel.
Por cima de mim está o céu rosado,
Banhado com tons de mel.

O coração sofre em canções caladas,
Construo palavras para te dizer
Descrevo as tardes sonhadas
Que espero um dia viver.

O teu sorriso aquece
Num dia chuvoso assim
E a memória esquece
Que nunca sorrirás por mim.

E continuo a sonhar
Deitada no chão molhado
À espera para voar
Neste belo sonho alado.

E os dias passam a correr,
Como segredos desvendados.
A chuva molha o meu corpo.
Eu mantenho os olhos fechados.

Continuo à espera do teu beijo
Que irá romper o seu rosado.
Quero dar-te os meus poemas
Enquanto sonho no chão molhado.

12 de Outubro de 2008

Memórias de pó e vento

O que sou eu para ti?
Uma memória do passado,
Doce, mas que não passa
De algo que já passou.

O que sou eu para ti?
Um antigo sonho alado,
Que, ao passar do tempo,
Por certo não perdurou.

O que sou eu para ti?
Um sorriso num retrato,
Um beijo escrito em papel,
Algo que o tempo esgotou.

É isso que eu sou para ti:
Um momento vivido,
Gozado e ultrapassado,
Para ser depois esquecido.

Pois eu agarro o sonho
De um dia te esquecer.
E tu vives o presente:
O passado é para morrer.

E um dia eu serei para ti
Uma névoa apagada,
E tu não te vais lembrar
Que fui, um dia, a tua amada.

E um dia tu serás para mim
Uma página arrancada com dor
E eu não me vou lembrar
Que foste, um dia, o meu amor.

Será que não vale a pena
Fazer um esforço para lembrar?
Ou será melhor esquecer,
Escavar fundo e enterrar?

08 de Setembro de 2008

Arrepio

Os dias frios de Inverno
Chegaram ao meu coração.
Um vento gélido,
Um murmuro arrepiante
Sopra na minha direcção.

Penso se hei-de ceder.
Haverá razões para resistir?
Este gelo queima-me por dentro,
Hipnotiza os meus sentidos.
Não consigo lutar, vou ceder…

Nos teus olhos procuro calor
Procuro a chama que se apagou
A chama que preciso para viver
Sem ela é certo que vou morrer.
Não vou ceder, não vou ceder…

Caminho por esta rua escura
Sem princípio, sem fim, sem direcção.
Caminho sozinha, no meio da multidão.
Sou invisível e, de novo,
O assobio fantasmagórico
Sopra na minha direcção.

As forças escasseiam e sinto que cedo
A alma abandona o corpo.

Agora pairo levemente e vejo a luz.
O murmúrio do vento é agora uma canção
Soprando, suavemente, na minha direcção.

19 de Fevereiro de 2008

Trouble in our hearts

In this green field of yellow daisies
We’ll both run, play and be free
But then we’ll be no more careless,
Night will come for you and me.

Under one dark blue sky with golden stars,
We’ll both cry, and we won’t sleep.
We will try to find new hope
And a dream we will both keep.

We’ll dream to find a meaning,
We’ll try to figure our lives,
We’ll live to find what we’d die for,
And we’ll hope to find our insides.

But not this afternoon, my love.
Because the sun now shines upon the sky,
The clouds are too far, they’re like lies
And our problems will just later come.

But not right now, my dear beloved.
Because as you’ll kiss me I’ll be sure
There’s nothing wrong in the world
That could cause trouble in our hearts.

26 de Setembro de 2008

Árvore da rua

Hoje os meus pensamentos voam como borboletas
Dentro da minha cabeça.
Tenho muito em que pensar, por que sorrir
Porque chorar,
Mas sempre premeditadamente
Nunca naturalmente.
Sempre, menos hoje
Em que os meus pensamentos fluem na minha mente
Dissolvem-se e materializam-se
Ocupam todo o espaço,
Tomam todo o vazio.
E então chegou a hora de me confessar
A ti, oh árvore da rua.

Quem me dera ser grande e fina como tu.
Quem me dera ver tudo de cima
Sentir tudo primeiro:
Sentir o vento primeiro,
Sentir o frio primeiro,
Sentir o sol primeiro.
Mas estou destinada a ver de um plano baixo
O mundo que me rodeia
E esta falha de visão
Tem o preço da decepção.

Todos te vêem, mas todos te ignoram.
Oh árvore da rua,
Já tanto tu viste chorar,
Tantas falhas, tantos triunfos,
Tantas calmas e tantas pressas.
Mas nunca te vê ninguém.
Pois, se eu fosse grande como tu
Ninguém me via também.
E que consolo eu recebo?
Nunca ninguém vê ninguém.

Oh árvore da rua,
Cresce os teus ramos e alcança-me,
Pois os meus pensamentos tomaram a minha mente
E os descontentamentos tomaram o meu sorriso
E já nada me faz bater o coração.
O meu interior é como um dia sem brisa,
Sem calor
Sem tempestades, sem trovoadas.
O meu interior não é nada
Excepto pensamentos incorpóreos
Mas pesados.

E o mundo pode não te ver
Mas ainda assim eu gostava de ser como tu,
Pois eu vejo a tua beleza
Cortando o céu claro
Impondo a tua presença discretamente.

02 de Dezembro de 2008

Let me in

You can’t keep crying inside
And shivering on the outside.
I understand what you’re feeling
So please, let me in.

When you hold your heart
Strong between your arms,
They’re like cement walls
Keeping me outside.

But your eyes are like windows,
Because you can’t hide
What you feel inside
Behind your wall of lies.

You can’t keep hiding
Closed within your thoughts.
I understand your feelings.
You have got to let me in

When you say you don’t care about love
I know that’s not what you mean.
And even if your heart is a fortress,
I know you will have to let me in.

How do you expect to be healed
From the wounds of the past,
If you drown yourself in sorrow
And don’t let anyone in?

Let me in.
Don’t close you heart.
I’m holding the key
All you got to do is let me in.

7 de Março de 2009

Desilusão

Uma só palavra quebra um coração,
Um só momento muda a vida
Uma gota de chuva estraga um dia de sol.
E um olhar rápido à tua felicidade
Que não me pertence, não é minha,
Suga toda a felicidade do meu mundo.

E as palavras que nunca me disseste
E o teu coração que fica quietinho
São mais do que posso suportar.
Às vezes é tão difícil erguer a cabeça
Lutar para continuar a caminhar
E sorrir perante tamanha desilusão.

Mas desiludir devia ser algo comum
Porque não é bom viver na ilusão.
Eu sabia que nunca me amarias
Nem valia a pena sonhar com tal.

E agora que caí em mim, resta-me
Por um pé à frente do outro e
Continuar a caminhar
Na estrada fria e molhada
Dura e com pedras soltas
Que é o caminho
Da minha desilusão.

25 de Outubro de 2008

Burning skies

Another ripped off page
Out of the book of our lives
What does it mean once again?
Will it tear us apart
Like lost souls in the sea?
Will we cry out like ghosts?
What’s now left for you and me?
Will you stay to save me
Or will you run to save yourself?
Will you die to kiss me?
Will you even cry when I perish
And my colours fade away?
Will you spend one single thought on me,
To remind yourself not to run?
To remind yourself I’m still here?
Will you keep, instead, thoughtlessly
Just for your soul not to burn?
And once again, what does it mean?
What’s the meaning of the tear in your eye?
I wonder why do you cry.
I sense you’re about to leave.
Will you leave me to burn in this sky?
If you have to go, then run
Please, don’t even look back.
When I close my eyes it won’t hurt.
So run, just run to save yourself
From the burning hell skies.

03 de Março de 2009

Ilusão

Um resquício de luz, que não posso suportar,
Porque os meus olhos estão tão habituados à escuridão
Que a luz não guia, mas encadeia.
Uma luz quente que me faz arder por dentro,
Porque a minha pele está tão habituada ao gelo
Que o calor não aquece, queima.
Um rasgo de felicidade que não devo alimentar,
Porque o meu coração está tão habituado à dor
Que a felicidade não o faz bater, paralisa-o.
Uma insinuação de melodia que não posso ouvir,
Porque os meus ouvidos estão tão habituados ao silêncio
Que a canção não alegra, parte-me em pedaços.
Uma espécie de alegria que não quero sentir,
Uma realidade que não quero aceitar
Uma ilusão que não posso abraçar.

Fantasma

Há uma sombra imperceptível,
Perdida na multidão.
Eu consigo vê-la através da minha janela,
Mas eu sei que tu não a vês.
Nem poderias.
A Sombra é um fantasma
E os fantasmas não existem.

A Sombra vagueia na rua
Sussurrando aos que passam,
Que ignoram a sua existência.
Gritando aos que passam,
Que não a vêem lá.
Gemendo, berrando, chorando,
Mas sempre imperceptível,
Já que eles não sabem que ela existe.

Mas não eu, descansando na minha cama,
E olhando pela janela.
Eu vejo-a, a Sombra.
Eu consigo vê-la.
Eu vejo-a ser empurrada, pisada,
Eu vejo-a aos encontrões na multidão,
Eu vejo-a a cair e a chorar,
E a erguer-se de novo.
Eu vejo-a tentar vezes sem conta,
E a cair cada uma dessas vezes.

A Sombra apenas quer ser vista,
Tal como aqueles por quem ela passa,
Ela quer, de alguma forma, ser mais que uma sombra,
Uma sombra imperceptível.
Mas ela sabe que não importa
Quão alto ela grita,
Com quanta força ela chora,
Porque ela nunca passará de uma sombra.

E quando eu olho mais próximo da janela
Eu vejo que não olho mais
Que o meu reflexo num espelho.
E nem pareço assim tão mal.
Eu consigo ver um certo brilho
Bem no fundo dos meus olhos,
Porque há alguma coisa viva em mim.
Algo que eu sei que devia ripostar
Ou ignorar como eles fazem com a minha sombra.

Essa luz em mim, que tu não vês,
Porque eu sou um fantasma,
É, de alguma forma, a esperança,
Ou talvez apenas o desejo
De que algum dia, no meio da multidão
Alguém bata em mim, se vire para trás,
E peça desculpa.

Reflexões pessimistas

Quantas vezes repetiste na cabeça
Palavras que suavizam a desilusão?
E quantas vezes não resultou?

Quantas vezes quiseste ser mais
Ou até menos do que és?
Apenas quiseste não ser tu?

Quantas vezes choraste notando
Que as lágrimas não te pertencem
E tu não as mereces?

Quantas vezes quiseste brilhar
Refugiando-te no teu brilho,
Que cegasse cada um?

Quantas vezes quiseste fugir
Para saber quem na realidade
Iria atrás de ti?

Quantas vezes sofreste,
Quantas vezes gritaste,
Quantas vezes?

07 de Janeiro de 2009

24/04/09

Leafless trees

The winter has been long by now.
There’s no more charm in the snow,
No more wonder in the leafless trees.
The clouded sky is no more hopeful,
The winter has been long by now.

I need some blue skies upon my world,
I need some joy behind my eyes.
Why do I need so much to smile?
Why do I need to feel the warm?

And why do you want to see me smiling?
I don’t stand among the many,
I don’t shine upon the sky.
So why do you want to make me smile?

21/04/09

Auto-Retrato

Olhos castanhos facilmente emocionados
Cabeça ocupada com pensamentos pesados
Alma afectuosa mas com certa insegurança
Que espera tanto do mundo como uma criança.
Coração decepcionado com a resposta que tem
E tão facilmente quebrado por todos e por ninguém.
Ser que vagueia na constante procura de amor
Por vezes a preto e branco. Por vezes cheia de cor.
Dependendo do dia e do tempo que faz
Sou por vezes a fúria e por vezes a paz.
Espírito grande em corpo pequeno
Assim sou eu no meu estado sereno.
Perdida, derivo num mar que é a vida
Mas nunca desisto pois há sempre esperança
De um dia encontrar a paz, que é fugida.