30/11/09

Antes tivesses sentido

Sentes o chão frio debaixo dos teus pés descalços?
Antes tivesses vivido.
E não o procures, ele não pode ser procurado.
Quem nos encontra, é ele
Sem nunca, na verdade, nos procurar.
Sentes o vento a gelar a tua cara?
Antes tivesses vivido.
E os sorrisos que vais dando (porque os sorrisos dão-se)
Regressam sempre a ti.
Por isso, vive.
Antes que digas:
Antes tivesse vivido.
E pensa, antes que te digam:
Antes tivesses pensado.
E perde-te, que é nele que te encontras
Quando ele te encontrar a ti.

30 de Novembro de 2009

29/11/09

A tenuidade de ti

O mundo é feito de momentos.
A vida é feita de decisões.
De uma forma ou de outra,
A cada momento,
A cada palavra,
A cada decisão,
Estamos a moldá-la.
Dizer que há destino,
Que há coisas predeterminadas,
É dizer que, tomemos uma ou outra direcção,
O fim do caminho não se altera.
E assim as nossas acções perdem valor,
E podemos afirmar que não temos
Qualquer responsabilidade
No fim a que chegamos com elas.
E depois há outra coisa,
Algo exterior à vontade,
Algo exterior ao destino:
O acaso; a coincidência.
Há coisas tão improváveis de acontecer,
Mas que acontecem;
Há caminhos que tomamos por acaso,
Mas tomamos.
E isso faz toda a diferença.

E tu és fruto de tantos acasos,
Que nem os posso contar.
E bastava uma pequena coisa mudar
Para tu não existires para mim.

29 de Novembro de 2009

27/11/09

No meu céu e no meu mar

Lembro-me de sonhar com o mar,
Um mar negro, calmo, assustador,
Um mar vazio.
Lembro-me de me sentir nua,
Perdida nesse mar,
De lutar para sair do lugar,
Mas permanecer,
Só e inerte,
No mar vazio.
Lembro-me de pedir o vento,
De desesperar por tempestades
Que ondeassem o meu mar.
E de me agarrar à mais frágil brisa,
À mais ténue aragem,
Preservá-la como uma preciosidade
Aumentá-la,
Fazer dela tempestade.

E depois lembro-me de ti.

Vieste sem ares de brisa,
Sem aparência tempestuosa,
E foste-te infiltrando em mim,
No meu céu, e no meu mar.
Foste entrando
De uma forma agradável,
Trazendo não o vento,
Mas o calor.
E o mar foi perdendo a negrura,
O céu foi perdendo o desalento.
Fui-me sentindo menos nua,
Menos só,
Menos insuficiente,

E a tempestade começou.

(O meu mar tem ondeado,
Tem chovido no meu céu,
O vento tem-me abalado,
Mas tem havido calor,
Sobretudo muito calor.)


27 de Novembro de 2009

25/11/09

São as folhas vermelhas e roxas
A cair das árvores, a estalar,
E o vento, tanto vento,
E a chuva,
E aquele cheiro a frio,
E o céu ora azul, ora branco,
Ora azul e branco.
E és tu.
És tu e a minha porta aberta
(que eu podia ter fechado,
ter caído no chão,
ter chorado)
És tu,
Que pegaste nas minhas mãos
E aqueceste-as,
Que podias ter ignorado os meus gritos,
Ter virado os teus olhos,
Não os cruzar com os meus,
Podias ter-me deixado afogada,
Asfixiada, derrubada.
Podias ter ido embora,
Podias nem ter vindo,
Mas estás aqui.
És tu, sim, sobretudo tu.
E Novembro.
E o Outono.

25 de Novembro de 2009

23/11/09

Os muros têm apenas um sentido

É como um muro.
De olhos vendados,
Pensamentos alados,
Caminho.
O chão é rugoso e instável,
O muro é estreito,
Mas eu caminho.
Não me perco,
Não tremo,
Não hesito.
À volta de mim está escuro,
Está tudo quieto e calado;
Mas dentro de mim,
Nunca há silêncio, nunca há escuridão.

Posso não ver nada, vejo-te a ti;
Posso não ouvir nada, ouço-te a ti;
Posso perder os meus pensamentos, estão em ti.
Por isso, não há como me iludir:
Por mais estreito que seja o caminho,
Por mais ténue que seja a luz,
Desde que tu existas,
Caminho sem me perder.

23 de Novembro de 2009

21/11/09

Desencontro II

Não. Nada disso. O verdadeiro desencontro é o que ela, com os seus cabelos castanhos, representa para ele; e o que ele, com os seus olhos de cor indefinida, representa para ela. Não são formas diferentes de ver o amor. O desencontro consiste na presença ou ausência dele. O que ele pretende dela é a conquista. Ele gosta do flirt, de dizer as palavras certas na altura certa e, com elas, encantar; gosta do jogo de pormenores e de acções, de explorar, de descobrir, de desvendar e, com as suas palavras, prender e desprender. É isso que ele pretende, é isso que lhe dá prazer: a persuasão, a vitória, a conquista. É tudo um jogo com várias direcções, com várias opositoras. Assim, para ele, ela não é mais que uma peça de um jogo do qual ele tira o mais que pode sem que isso implique de tenha de dar de si em retorno. E não quero, com isto, dizer que ele é insensível, que tem mau carácter e intenções menos nobres. Não. Ele não pretende, com o seu jogo, magoar ninguém. Até porque é algo inconsciente. A verdade é que a destruição que ela sente em si não é culpa dele. A culpa é do desencontro. Ela não gosta de jogar. As suas palavras não têm qualquer fim a não ser precisamente a verbalização dos seus sentimentos. É que ela às vezes sente tanto que as palavras transbordam, e ela tem de as dizer. E este sentimento é algo tão exclusivamente intenso que ela só experiencia com uma pessoa de cada vez.
É esse o grande desencontro: para ele, ela é uma peça de um jogo cujo fim é a exploração e a vivência, é uma peça no meio de muitas outras peças, que ele joga em simultâneo; para ela, ele é sem dúvida exclusivo, não é uma peça, é o todo, o único todo.

21 de Novembro de 2009

20/11/09

Nada

A verdade é esta:
Podes brincar com as minhas coisas sérias,
Magoar-me, iludir-me, manipular-me;
Podes não te definir, não me definir;
Podes ser com toda a gente como és comigo,
Falar com toda a gente como falas comigo;
Podes destruir-me totalmente;
Podes fazer-me chorar;
Podes levar-me à dor.
Não tenho como te impedir;
Tu fazes o que queres,
E como eu me sinto é culpa minha.
Quem me ilude sou eu.
Usa-me. Serás perdoado.
Magoa-me. Irei culpar-me.
Estás livre de te ir embora
E voltar quando te der.
E eu que importo?
Para ti? Nada.
Para mim? Ainda menos.

20:00

Não está frio na rua,
Pelo menos não o suficiente
Para me fazer querer andar,
Para me abstrair da dor.
Não compreendo porque é que custa tanto andar.
Os meus passos são esforços redobrados,
São inseguros, são demorados.
Sinto-me bem no escuro da noite
(ou pelo menos não tão mal)
Na rua em que os carros passam sem parar,
Em que as pessoas andam sem me olhar.
É bom ser invisível.
É como se não existisse.
E a não-existência é sempre mais fácil.
Deixas-me com vontade de ser invisível,
Para não ter de falar e fingir que estou bem,
Dás-me vontade de me sentar na relva e não dizer nada.
Eu não te compreendo.
E só barulho silencioso da noite compreende
O silêncio que construíste em mim.
20 de Novembro de 2009

Ódio

Deixa-me de rastos.
Abala-me toda.
Eu autorizei-te a fazeres-me sofrer
E sim, devia ter mais cuidado com as minhas palavras,
Mas agora é tarde demais.
Eu já sou toda tua.
E tu não és nada meu.
Tu és todo um exclusivo de palavras para mim
E as palavras que me dizes, dizes a muitas.
Por isso, continua:
Deixa-me de rastos com a tua indiferença;
Arranca-me a vontade com as tuas acções;
Faz-me sofrer com as tuas palavras.
Por mais que o meu ódio cresça
Nunca o dirigirei a ti.
O meu ódio vai todo de mim para mim.
Odeio-me.
Odeio-me profundamente.
O meu ódio chega a suplantar os sentimentos bons
Que (infelizmente) nutro por ti.
Fazes-me odiar-me muito,
Por não ser boa que chegue,
Forte que chegue,
Racional que chegue.
Fazes-me odiar-me profundamente,
Por seres tanto para mim,
Sem que eu seja alguma coisa para ti.
Por isso, força, magoa-me
E leva o que resta de bom em mim.
Para que é que me quero
Se tu não me queres?

20 de Novembro de 2009

16/11/09

Desencontro

Ela tem os cabelos castanhos como fios de madeira e os olhos a fitar o que não se vê. Ele tem olhos de cor indefinida a fitar os cabelos castanhos dela.
Há palavras que não é preciso dizer para serem ditas; há gestos que formam palavras, por si só. E há  sentimentos que não se podem transpor em palavras. O medo que ela sente, ao fitar o vazio, é intransponível em palavras. No vazio não há nada e ela tem medo desse nada porque nesse nada não há ele.
Ele, por sua vez, não sente nada que não se possa transpor em palavras porque não é dele sentir coisas assim. Isso é para aqueles que pensam no que sentem e ele sente sem pensar e pensa sem sentir. São coisas distintas que não se tocam. E, então, ao olhar para os cabelos castanhos dela, ele pensa no quanto é estranho como ela olha para o vazio com um ar desolado e não diz nada para depois o olhar nos olhos e sorrir de alívio.
Quando ela o olha nos olhos sente-se ela outra vez. Os olhos dele espelham-na, são olhos que brilham como reflexo do brilho do coração dela e isso fá-la sentir-se bem. O amor dela é o sol e os olhos dele são a lua que o reflecte. Era bom que houvesse sol nos olhos dele. Mas os olhos dele sem sol são melhores que nada, melhores que o vazio.
Ela é de pensar em tudo o que sente até que o sentimento seja maleável e não magoe o coração.
«Tens me magoado muitas vezes», diz ela, por fim.
Mas ele não compreende. Não quer compreender. Não a quer magoar, mas não é dele isso de se dar completamente a outra pessoa. E é isso que ela pretende, ele sabe-o bem.
Ele precisa dela quando precisa dela, o que não é sempre. Ela precisa dele sempre. E por isso está sempre presente para quando ele precisa dela. Mas ele não. E isso magoa, tem-na magoado muitas vezes.
Ambos acreditam no amor, é certo. Mas ela acredita no amor total e ele acredita no amor parcial. Ele não sofre por amor. Ela sofre apenas por amor.
Quando os olhos de cor indefinida dele se encontram com os olhos de cor bem definida dela, há sempre um sorriso, nem que seja interior, em cada um deles. A diferença está no tempo em que ele perdura para cada um deles. É uma questão de memória. É uma forma diferente de pensar. É uma divergência de perspectivas sobre o amor. É um desencontro.

16 de Novembro de 2009

15/11/09

Reviver

Sabes quando uma frase despoleta em nós um encadear de conclusões que doem profundamente: aquela dor súbita e profunda que nos inunda o olhar e nos faz sentir impotentes?
Foi como me fizeste sentir.
E já não me sentia assim há muito tempo, e nunca o tinha sentido por causa de ti.
É o medo súbito que se apodera de nós e a constatação de que é um medo fundamentado.
Dói nos tanto que nos apetece gritar,
Mas não podemos.
Dói nos tanto que nos apetece fugir,
Mas não podemos.
É o princípio do quebrar (e ninguém sente compaixão por um coração que ainda não partiu).
Tenho medo de que te vás embora, para longe, ainda mais longe. Tenho medo de não ser suficiente para te fazer ficar.
E sei que não sou. Porque haveria eu de ser?
O que eu queria era ser tudo o que tu queres, tudo o que precisas, tudo o que procuras.
Queria ser tudo para ti.
Queria que precisasses de mim, só de mim, da mesma forma que eu preciso de ti.
Mas porque haverias tu de precisar de mim? Não tenho nada para te dar a não ser a minha necessidade de ti.

Eu mereço esta dor. Porque não haveria de merecer? Eu avisei-me.
Mas dói muito, ainda assim, a ideia de tu a ires embora.

15 de Novembro de 2009

Novembro

As folhas caem das árvores como chuva,
E cobrem o chão molhado de dourado;
As folhas, que eu piso, silenciosamente,
Enquanto caminho sem destino.
Caminhar por caminhar faz bem à mente
E a companhia das árvores sabe bem:
As árvores não dizem nada,
Tudo o que ouço é o vento,
Tudo o que sinto é o vento
E os meus cabelos a voar.
Caminho em silêncio.
É de silêncio que eu preciso.
O mundo é um lugar barulhento,
E no mundo, eu ouço tudo,
Menos o que quero ouvir,
Ouço a todos, menos a ti.
Se não posso ouvir as tuas palavras,
Se não posso ver o teu rosto,
Ao menos que ouça o vento,
Ao menos que veja as árvores.

Tento abstrair-me de ti.
E caminho por caminhar.
Mas tu fazes-me falta.
Mais do que tu sabes.
Mais do que eu gosto de saber.

15 de Novembro de 2009

12/11/09

Pensamentos pesados

Tenho uma pedra pesada no peito.
E pensamentos dolorosamente cansados.
A tua ausência, o teu desinteresse,
Não me magoam. Mas cansam-me tanto!
Cansam-me a alma, cansam-me a vontade.
E tenho vontade de ceder,
Perder-me no comodismo do silêncio
E deixar de lutar pelas nossas palavras.
Apetece-me calar-me para sempre
E limitar-me a observar, não viver.
Quero sentar-me neste passeio molhado
E ver-te passar indiferente,
Ou nunca te ver de todo.
Quero render-me ao cansaço,
Ao meu doloroso tédio,
E à voz que me diz
“Desiste. Fecha os olhos e dorme.
Sonha, talvez, mas não queiras.
Querer, cansa. Lutar, cansa.”
É que o teu silêncio é uma pedra
Que pesa nos meus pensamentos.
E as lágrimas que se abeiram não são de dor,
São de monotonia, de silêncio, de rendição.
São lágrimas de quem se cansou de usar as palavras.

12 de Novembro de 2009

10/11/09

Medos de corredor

Tudo o que vejo é um corredor longo,
Paredes fechadas erguidas à minha frente
E tudo o que desejo é regressar
A um lugar onde já estive antes.
«Não» diz uma voz na minha cabeça.
«Não», insiste num lamento doloroso,
«Ainda é demasiado cedo para regressar».
Sei que há algo que estou à procura,
Ou parte de mim está à procura,
Mas não o consigo encontrar
E como neste corredor é impossível andar para trás
Continuo a caminhar na mesma direcção.
Tudo o que vejo é um corredor longo e fechado,
Tudo o que ouço são risos que não pertencem aqui,
Como fotografias de som, memórias distantes.
Tudo o que sinto é medo:
Medo escondido atrás de cada porta.
E no peito, uma dor que identifico como dúvida.
O meu olhar continua na procura incansável de algo
Que nunca chegarei a saber o que é
E por isso tenho medo. Por mim, pelas minhas vozes.
Tudo o que vejo é um corredor longo,
Paredes fechadas erguidas à minha frente,
E no fundo do corredor, num lugar onde a vista não chega,
Sei que há algo de feliz à minha espera.

17 de Setembro de 2009
Eu bem que tento não me importar. E acabo por me habituar ao teu silêncio. Porque haveria de haver problema no facto de ser sempre eu a procurar-te? Porque haveria eu incomodar-me com o facto de ser sempre eu a esforçar-me por nós? Não tem de haver problema, porque é a ordem natural das coisas. Porque haverias tu de me procurar? Porque haverias tu de te esforçar por mim? Não fui feita para que se importassem comigo, fui mais feita para me importar com os outros. E prossigo, sempre na ordem natural das coisas, como aquela que vai sempre ter contigo, que vai sempre falar contigo. Não posso esperar que tu venhas, pois não vens. É verdade. Se eu esperar, tu não vens.


E lá vais tu a passar debaixo dos meus olhos sem os procurar. Outra e outra vez.

Inerte

Ao meu redor inúmeros corpos indistinguíveis movimentam-se,
Correm para todos os lados a velocidades estonteantes,
Vozes misturam-se e ressoam na minha cabeça
E apesar de estarem tão próximas,
De ocuparem todo o ar à minha volta,
Ouço-as como uma sinfonia distante e imperceptível.
Tudo à minha volta é movimento:
É a mudança em forma de sons, cores e velocidades,
São etapas a suceder-se, ciclos a fechar-se, erros a repetirem-se,
É a mesma felicidade a ser construída e a desmoronar no mesmo instante.
Tudo à minha volta é mudança,
Tudo se move como que arrastado por uma forte corrente.
Tudo cede.
Ninguém parece resistir.
Menos eu.
Eu permaneço no mesmo lugar
E pareço ser a única pessoa que vai ficando,
Como uma pedra demasiado pesada para ser arrastada.

Tu muda, tudo se move, menos eu.

16 de Junho de 2009
Sou as lágrimas que não cheguei a verter
E as palavras que não cheguei a dizer
E as voltas que dei no meu jardim.
Voltas por culpa tua,
Que vais sempre demasiado cedo.
Vais tão cedo que me deixas sempre sozinha
Às voltas no meu jardim,
Onde tudo é um pouco de ti.

10 de Novembro de 2009

Novelo de palavras presas

Tenho palavras presas na minha boca
Que se manifestam num sentimento estranho:
Uma espécie de novelo de ternura e medo
Que se materializa sempre que penso em ti.
Tenho palavras presas na minha boca
E só contigo as consigo esquecer
(Porque contigo nunca há nada mais do que tu)
Lembrar-me de ti aumenta as palavras,
Que são tantas; mesmo ao meu jeito
De descrever o que não devia ser descrito.
Tenho palavras presas na minha boca
E sentimentos presos no meu coração.
Por isso, vou pondo parte do meu novelo
Nas palavras que dirijo a ti,
Que nunca são tantas nem tão puras
Como as presas na minha boca.

“Cada pedaço de mim gosta de cada pedaço de ti”.
Estas palavras, que são minhas, custam-me saber,
Por terem andando tão presas ultimamente.

10 de Novembro de 2009

09/11/09

Não gosto da facilidade com que te afastas de mim,
E como lidas tão bem com a distância entre nós.
Não gosto que não precises de me ver.
Não gosto como consegues passar sem me falar
E dizer-me que um dia destes não vens.
Não gosto porque eu não sou tão forte.
Eu não consigo afastar-me de ti,
E jamais teria força para me levantar e virar costas,
Muito menos para passar sem te ver
Ou prometer-te que um dia destes não venho.
Sim, tu fazes-me sentir fraca,
Tão estupidamente insuficiente.
E não gosto de saber que preciso mais de ti
Do que tu precisas de mim.

9 de Novembro de 2009

08/11/09

Mar de solidão

O mundo é um mar no qual caminhamos todos
Irremediavelmente sozinhos.
Podemos pisar as mesmas ondas
E enfrentar juntos as mesmas tempestades,
Podemos ver os mesmos pores-do-sol
E adormecer debaixo das mesmas estrelas,
Mas neste mar, que é o mundo,
Não deixamos nunca de estar sozinhos.
Todos juntos, estamos sozinhos
No único lugar que nos interessa,
Todos juntos, estamos sozinhos dentro de nós.
E as nossa mentes sozinhas apelam por ser invadidas.
Todos queremos ouvir outras vozes que não a nossa
Dentro da nossa cabeça.
Todos queremos ver outros rostos que não o nosso
Quando nos olhamos ao espelho.
Todos queremos ter um outro fim que não nós
A guiar as nossas acções.
E neste mar, que é o mundo,
Vamos tentando que nos tomem,
Que nos atraiam, que nos fascinem,
Que nos manipulem, que nos magoem,
Vamos desejando perder-nos,
Vamos aspirando a apaixonar-nos,
Tudo com o fim de, assim,
Vivermos menos sozinhos.
8 de Novembro de 2009

(e os meus textos andam a repetir-se muito

Caminho, outra vez.

Já tenho andando a caminhar  há  algumas  horas e sei  que já não sinto  os  meus  pés: tudo o que sinto agora és tu. Sinto-te a ti, ora a caminhar ao meu lado, ora presente nos meus pensamentos. E esta viagem não acaba, é mais eterna que a vida; este caminho não tem fim, não vai dar a lado nenhum. É um caminho duro, mas proveitoso e a viagem consiste apenas em caminhá-lo.
Quando te ausentas, o caminho fica mais penoso e quando tenho de te carregar comigo, é mais difícil caminhar. Mas por mais duro que seja o caminho, por mais horas que estiver a caminhar, não paro, desde que caminhes ao meu lado.

8 de Novembro de 09
Porque é que que quando gostamos de alguém apenas nos sentimos completamente bem com essa pessoa? Bem, se ela tem parte de nós, apenas estando com ela podemos ser nós por inteiro (e apenas sendo nós por inteiro podemos sentir-nos completamente bem).
Porque é que que quando gostamos de alguém apenas nos sentimos completamente bem com essa pessoa? Bem, se ela tem parte de nós, apenas estando com ela podemos ser nós por inteiro (e apenas sendo nós por inteiro podemos sentir-nos completamente bem).
Partilharmo-nos com outra pessoa é das melhores sensações que podemos experenciar, enquanto humanos. É de tal forma agradável que chegamos a considerá-lo uma bênção. (Mas isso é para nós, os românticos.) Num mundo em que todos somos completamente sozinhos, todos procuramos alguém que faça de nós seres (incompletamente) acompanhados. Todos desejamos (desejámos ou desejaremos) ter alguém que tome parte de nós, e é por isso que continuamos a apaixonar-nos - porque é isso que é o amor, e nada mais: perder parte de nós para alguém.

Quando nos apaixonamos, deixamos de estar sozinhos dentro de nós: há alguém que invade as nossas mentes, toma os nossos pensamentos e nos acompanha ao longo do dia; há alguém que partilha as nossas experiências e controla as nossas vontades. E, menos sozinhos, vamos vivendo mais ou menos felizes.
Como  romântica  que  sou,  e  uma  romântica  dada  ao  vício  de  pensar sobre tudo, intrigo-me facilmente com o tema mais cliché de todos: o amor. E como pessimista que sou, e uma pessimista que tende a venerar a razão e o autocontrolo, torno-me alguém dificilmente apaixonada.
É certo que é de bom grado que me perco para um outro (perder-me para mim não é nada próprio do autocontrolo), mas dificilmente encontro um outro para quem me perder. É que a minha intuição é não raras vezes suplantada pelo meu pessimismo, pelo que, sempre que o meu ser intui algo de bom a que me prender, a minha razão ordena-me a não o fazer. Coisas boas não acontecem a pessoas como tu, é o que ouço todos os dias na minha cabeça.
E assim, vou oscilando entre a faceta romântica e a faceta pessimista, entre a que vê a verdade a preto e branco e a que sabe que é possível vê-la doutras cores. E assim,  vou oscilando entre o desejo profundo de me perder e a luta constante por manter a razão.

05/11/09

Caminhos feitos de chuva

Tenho andado a caminhar por estradas lamacentas,
Por fileiras de relva molhada,
E os meus passos têm sido sempre só os meus.
Por vezes ouço os teus (escassos) a pisar as folhas secas,
E é quando caminho mais depressa, mais convicta.
É que as tuas palavras têm rareado,
Adquirindo o alívio de gostas de chuva em verões de seca;
Essas tuas palavras que têm sempre algum efeito sobre mim.

Quando a noite chega e deixo de te ouvir ao meu lado,
Ou quando te demoras nas tuas distantes ausências,
Os meus passos ficam trémulos e o caminho parece mais difícil.
E quando de ti ouço apenas o silêncio,
Deixo de ter um propósito e o medo apodera-se de mim:
Tenho medo de andar a caminhar sem ter um fim.

Mas tu voltas sempre, para o bem e para o mal.
E as tuas palavras regressam; volto a ouvir os teus passos.
E então, volto a caminhar de bom grado,
Porque, como posso eu recusar-me a caminhar,
Se tu caminhas, tão sincero, ao meu lado?

5 de Novembro de 2009

03/11/09

Não sinto absolutamente nada, para além da tua ausência, para além da tua distância. Já nem me sinto a mim, sabes? Só te sinto a ti: ou a tua falta.

Quatro momentos do teu auto-perder:

Primeiro, ele toma os teus pensamentos:
Começas a vê-lo em todos os lugares,
A lembrar-te constantemente das suas feições,
A ouvir constantemente as suas palavras;
Por vezes, perdes o raciocínio
E encontras-te a vaguear nas memórias dele.

Depois, ele controla os teus movimentos:
O teu corpo impele na sua direcção,
Os teus lábios curvam-se sem os controlares,
E os teus olhos procuram constantemente os dele;
Quando ele está longe, sentes uma ausência física
E quando ele está perto, sente-lo sempre longe.

E é aí que ele passa a controlar as tuas vontades:
Passas a querê-lo sempre ao teu lado,
Independentemente do dia ou da ocasião,
Passas a querer ouvir todas as suas palavras
E todas as suas banalidades adquirem um tom especial,
Despertando em ti um sentimento específico.

Então ele controla os teus sentimentos:
Faz sentir-te no auge da felicidade,
Ou no mais profundo desespero;
Uma simples palavra sua pode mudar o teu dia,
Elevando-o ao melhor dos dias
Ou fazendo-te querer esquecê-lo para sempre.

E quando ele contra os teus pensamentos,
Os teus movimentos, as tuas vontades, os teus sentimentos,
Passa a fazer parte de ti e tu perdes um pedaço teu,
Um pedaço teu que lhe entregaste de bom grado,
Porque foi agradável desprenderes-te de ti.

E é nesse momento que ficas de tal forma dependente,
Que nunca te consegues sentir completa sem ele.
É nesse momento em que o espaço que tu ocupas,
E ocupaste sozinha em toda a tua existência,
Se torna demasiado grande para ser ocupado só por ti:
É nesse momento que deixas de te ser suficiente.

3 de Novembro de 2009

Perdi-me de mim.

As cores têm andado diferentes.
E o mundo, aquele mundo onde não caminhas,
Anda pobre e insuficiente.
Parece que apenas quando pisas o meu chão,
Quando tenho as minhas mãos na tua mão,
E, ao teu lado, não consigo não sorrir,
É que o mundo tem alguma espécie de encanto.
Tu tornas o ar agradável.
O teu silêncio torna-o difícil de respirar.
Tu anulas o frio, a dor, a dúvida.
A tua ausência faz-me abraçar-me a mim própria,
Na procura de conforto.
E não gosto desta ausência de mim
No controlo dos meus sentimentos.
Tu tomaste-me completamente, dominaste a minha razão,
E agora quem decide se eu tenho frio ou calor,
Quem controla o que é feliz e o que é dor,
És tu, sempre tu: a imagem gravada atrás dos meus olhos;
O pensamento escondido atrás das minhas palavras.
E cada vez mais sei que me perdi.
Perdi-me de mim. Perdi-me em ti.